Ford encerra a produção de veículos no Brasil

emblema ford 12_01_21A Ford anunciou nesta segunda-feira (11) que encerrará a produção de veículos em suas fábricas no Brasil após um século. A montadora mantinha fábricas em Camaçari (BA) e Taubaté (SP), para carros da Ford, e em Horizonte (CE), para jipes da marca Troller.

 

A empresa, que fechou 2020 como a quinta que mais vendeu carros no país, com 7,14% do mercado, continuará comercializando produtos no Brasil.

 

Eles serão importados principalmente da Argentina e do Uruguai. A Ford disse ainda que todos os clientes seguirão com assistência de manutenção e garantia.

 

Dentre as instalações atuais, será mantido o Centro de Desenvolvimento de Produto, na Bahia, além do campo de provas e da sede administrativa para a América do Sul, ambos no estado de São Paulo.

 

Motivos da decisão

Em comunicado divulgado para a imprensa, a fabricante diz que a decisão foi tomada “à medida em que a pandemia de Covid-19 amplia a persistente capacidade ociosa da indústria e a redução das vendas, resultando em anos de perdas significativas”.

 

Em carta a concessionários obtida pela Globo, a montadora afirmou que “desde a crise econômica em 2013, a Ford América do Sul acumulou perdas significativas” e que a matriz, nos Estados Unidos, tem auxiliado nas necessidades de caixa, “o que não é mais sustentável”.

 

A montadora citou ainda a recente desvalorização das moedas na região, que “aumentou os custos industriais além de níveis recuperáveis”, e mencionou a pandemia e a ociosidade nas linhas de produção, “com redução nas vendas de veículos na América do Sul, especialmente no Brasil”.

 

“Essa decisão foi tomada somente após perseguirmos intensamente parcerias e a venda de ativos. Não houve opções viáveis”, concluiu a carta dirigida aos revendedores.

 

5 mil empregos afetados

Questionada pelo G1 sobre quantos funcionários serão demitidos, a Ford disse que aproximadamente 5 mil empregos serão afetados com a reestruturação no Brasil e na Argentina. O país vizinho sofrerá ajustes pelo encerramento da produção no Brasil, mas continuará produzindo veículos.

 

Ao todo, a Ford possui 6.171 funcionários no Brasil. Em Taubaté, 830 funcionários serão demitidos, segundo o Sindicato dos Metalúrgicos. A fábrica de Horizonte emprega 470 pessoas.

 

A unidade de Camaçari, que produzia Ka e EcoSport, e a de Taubaté, onde eram feitos motores e transmissões, serão fechadas imediatamente, reduzindo a produção às peças para estoques de pós-venda.

 

Que carros seguem à venda?

Os modelos nacionais – Ka, EcoSport e Troller T4 – terão suas vendas interrompidas assim que terminarem os estoques.

 

A Ford disse que o país passará a ter modelos importados, principalmente das unidades de Argentina e Uruguai, além de outras regiões fora da América do Sul. Em comunicado, a montadora confirma a venda dos novos Transit, Ranger, Bronco e Mustang Mach1 no Brasil.

 

Reestruturação global

De acordo com a Ford, o fechamento das fábricas no Brasil é mais um passo de seu processo de reestruturação global.

 

“A Ford está presente há mais de um século na América do Sul e no Brasil e sabemos que essas são ações muito difíceis, mas necessárias, para a criação de um negócio saudável e sustentável”, disse Jim Farley, presidente e CEO da Ford.

 

“Estamos mudando para um modelo de negócios ágil e enxuto ao encerrar a produção no Brasil, atendendo nossos consumidores com alguns dos produtos mais empolgantes do nosso portfólio global”, completou.

 

No ano passado, a Ford vendeu 119.454 automóveis no Brasil, segundo dados da Anfavea. O resultado representou uma queda de 39,2% na comparação com 2019, maior que a observada em todo o segmento de automóveis.

 

A associação das fabricantes, a Anfavea, disse que não vai se pronunciar sobre o encerramento das atividades, mas confirmou que a decisão da Ford “corrobora o que a entidade vem alertando há mais de um ano sobre a ociosidade local, global e a falta de medidas que reduzam o Custo Brasil”.

 

Encerramento em São Bernardo do Campo

No Brasil, o primeiro passo da reestruturação, em 2019, foi o encerramento da produção na fábrica de São Bernardo do Campo (SP), depois de 52 anos. Ela foi vendida em outubro último para a Construtora São José e com a FRAM Capital.

 

Como consequência, a marca deixou de vender no Brasil o Fiesta, um de seus modelos de maior sucesso, e abandonou o mercado de caminhões na América do Sul. A unidade do ABC paulista empregava 2.350 funcionários e, desses, apenas mil, que são da área administrativa, foram mantidos.

 

Impactos no mundo

Em 2018, ao anunciar a reestruturação, a Ford afirmou que iria desistir de maior parte de sedãs nos EUA, incluindo Fusion e Fiesta, para ter linha com 90% de SUVs, picapes e veículos comerciais.

 

O plano de reorganização da empresa também afetou outros países nos últimos anos. Foram fechadas fábricas na Austrália, após 91 anos no país, e na França, em Blanquefort. Na Europa e Estados Unidos, a montadora anunciou demissões em 2019.

 

 

g1.com