Não sei por que resolvi escrever sobre esse assunto. Talvez por falta de melhor inspiração.
Diante da morte, não raras vezes, nos encontramos em uma situação delicada, principalmente quando sentimos na obrigação de confortar parentes e amigos.
No luto, defrontamo-nos de forma inesperada com os sentimentos humanos mais difíceis: tristeza, angústia, medo.
Sim, o luto é muito difícil e não existe nada que possa ser dito para tirar a dor de dentro do peito de quem vive uma perda. O enlutado precisa de acolhimento e apoio.
Na tentativa de diminuir a dor do outro, infelizmente muitas pessoas acabam falando coisas que só aumentam o sofrimento. Veja algumas a seguir.
- “O tempo cura todas as feridas”
Tempo? Quanto tempo? Que dia a dor acaba?
O tempo do luto é muito diferente do tempo do relógio. As horas e os minutos que passam do lado de fora têm uma dimensão distinta das que passam do lado de dentro. E o tempo do luto é individual, não existe um padrão, muito menos uma data de vencimento.
Na prática, dizer que o tempo cura não tem significado nenhum e menospreza a dor.
- “Deus não dá mais do que você pode suportar”
A mensagem que fica é: por que eu mereço tanta coisa ruim?
- “Quando uma porta se fecha, uma janela se abre”
Não há como relativizar. Perder alguém é dolorido, não se trata de uma jornada de superação. Em momentos de dor, não cabe dizer que aquela perda vai gerar uma oportunidade.
- “Pelo menos…”
Qualquer declaração que comece com “pelo menos” deve ser eliminada, abolida! É uma bengala de comparação que simplesmente não funciona.
- “Ela(e) deve estar em um lugar melhor”
A conclusão imediata é: então estar aqui comigo era ruim.
O que dói para quem perdeu alguém amado é a ausência. Não conforta saber onde ele(a) está, porque o que queremos é tê-lo(a) de volta.
- “Tudo acontece por um motivo”
Tentar encontrar uma razão para a morte de alguém é um movimento natural humano, procuramos explicação porque instintivamente acreditamos que tudo poderia ser evitado e que a perda poderia não ter acontecido.
Mas não é assim. Não somos maiores ou melhores que a morte, e talvez depois de buscar exaustivamente uma explicação do porquê perdemos alguém que amamos, é que podemos descobrir um novo significado para o porquê da nossa própria vida.
- “Já faz tempo, você precisa retomar a sua vida”
No processo de luto, vale a máxima “um dia de cada vez”. Cada avanço conta, e vale olhar para trás e identificá-los. Por exemplo, logo após a perda como era sair da cama? E como é agora? Esse tempo é individual e ninguém de fora pode estabelecer o prazo necessário, não existe prazo de validade!
- “Vocês podem engravidar outra vez” ou “Vocês podem comprar outro cachorrinho”
Pessoas e animais são insubstituíveis. Ninguém ocupa o lugar de quem partiu e ponto. Isso não diminui a dor.
- “Eu sei o que você está sentindo”
Essa frase normalmente vem acompanhada de um exemplo que demonstra claramente que a pessoa não sabe. Não! Ninguém sabe!
Mesmo tendo também vivido um processo de luto, ainda assim não sabemos como a outra pessoa se sente.
- “Se estiver precisando de alguma coisa, é só me chamar”
O enlutado está vivendo um mundo desconhecido, desorganizado, e nesse momento talvez não tenha nem energia para pedir ajuda, mas precisa sim dela. Não ajuda delegar ao enlutado a iniciativa de pedir ajuda, se quer realmente colaborar, faça!
E o que devo falar, então?
Prefira:
- “Deve estar doendo muito” (essa frase funciona para qualquer situação de dor, até quando uma criança mostra um joelho ralado ou uma amiga termina um namoro).
- “Não sei o que dizer, mas estou aqui para ouvir”.
- “Estou pensando em você”.
- “Sinto falta dele(a)”.
- “Quer sair um pouco?”
- “Tome o tempo que precisar”.
- “Não precisa ser forte”.
- “Qualquer coisa que você esteja sentindo está ok”.
- “Pode rir ou chorar, eu não julgo”.
- “Você quer companhia neste domingo?”.
- “Sinto sua falta e quero estar perto, se for tudo bem por você”.
- Fale menos e faça mais: “Estou levando o jantar”; “Fiz um bolo pra você”; “Vou passar para recolher sua roupa suja”; “Posso fazer sua faxina”; “Conte comigo para levar o cachorro para passear”.
- “Me conta uma história dela(e)”.
- “Isso é tão injusto” / “Que merda!”.
- “Te amo”.
Texto inspirado em Gisela Adissi.
