O governo quer que pessoas com deficiência de baixa renda, que recebem o BPC, ingressem no mercado de trabalho formal. Hoje, esses beneficiários deixam de receber a assistência social se assinarem um contrato de emprego.
A ideia é pagar metade do BPC (benefício de prestação continuada) a essas pessoas quando encontrarem um trabalho de até dois salários mínimos (R$ 2.200).
A mudança foi embutida em uma medida provisória já aprovada pelo Congresso e deve ser sancionada pelo presidente Jair Bolsonaro ainda em junho.
O BPC é voltado à população de baixa renda que tenha mais de 65 anos ou a pessoas com deficiência que se enquadrem na faixa de renda do programa. O benefício mensal é equivalente a um salário mínimo (R$ 1.100).
O mecanismo de estimular o trabalho formal para esse público foi desenhado para aqueles que recebem o BPC por causa de deficiência. Ele é chamado de auxílio-inclusão.
O valor do auxílio, de acordo com o argumento do governo, se somará ao do salário da carteira de trabalho. Então, a pessoa com deficiência receberá mais do que a renda se permanecer com o BPC integral. Isso deverá reduzir os gastos com o BPC, mas o governo ainda não informou o impacto da medida.
A legislação federal exige que empresas com cem ou mais funcionários ocupem de 2% a 5% de seus cargos com pessoas com deficiência.
Com isso, a equipe econômica espera que cerca de 300 mil vagas para trabalhadores com deficiência sejam preenchidas. Atualmente, segundo membros do governo, empresas têm dificuldade para cumprir a cota dessas contratações.
Esse mesmo modelo de reduzir, em vez de zerar o benefício social, quando a pessoa ingressar no mercado de trabalho deve ser proposto no projeto de reformulação do Bolsa Família.
No formato atual, o beneficiário deixa o Bolsa Família quando consegue um emprego formal e, depois, se perder o contrato de trabalho, tem dificuldade para regressar ao programa.
A ideia é que, se ele encontrar um emprego formal, continuará recebendo, por um período determinado, uma parte da assistência social.
Para integrantes do Ministério da Economia, o risco de perder os recursos dos programas desestimula a pessoa com deficiência ou o beneficiário do Bolsa Família a procurar acesso ao mercado de trabalho.
No entanto, o Bolsa Família paga em média R$ 191 por mês —bem abaixo de um salário mínimo. O programa tem o objetivo de transferir renda para pessoas abaixo da linha de pobreza e extrema pobreza.
Atualmente, a regra é uma renda mensal por pessoa de até R$ 89 (extrema pobreza), independentemente da composição familiar, ou de até R$ 178 (pobreza), para famílias que possuam crianças ou adolescentes de até 17 anos.
No caso do BPC, a faixa de renda é R$ 275 por pessoa da família. Esse teto pode subir para metade do salário mínimo (R$ 550) por membro, mas apenas em caso de grau de deficiência mais elevado.
Essa flexibilização na regra para receber o BPC foi aprovada pelo Congresso por meio de uma MP (medida provisória) no fim de maio. Essa foi a mesma MP usada pela base do governo para enxertar a proposta do auxílio-inclusão a pessoas com deficiência que recebem o benefício assistencial.
Pelo texto enviado à sanção de Bolsonaro, para manter o auxílio-inclusão, o contrato de trabalho não pode ultrapassar dois salários mínimos por mês, e será exigido que a pessoa receba o BPC há mais de cinco anos.
Como a legislação atual impede a continuidade do benefício após a entrada no mercado de trabalho, o governo espera que a medida eleve o nível de emprego de pessoas com deficiência. A busca por trabalho é opcional, e não uma imposição das novas regras.
Dados do governo mostram que a participação de pessoas com deficiência no mercado de trabalho subiu gradualmente, mas ainda é baixa em relação às exigências da lei.
Em 2014, cerca de 36,3% das vagas reservadas para esses trabalhadores estavam ocupadas. O patamar subiu para 50,6% em 2018.
Estudo do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) feito com base em dados oficiais mostra que o rendimento médio da pessoa com deficiência que tem um emprego formal é 10% mais baixo do que a média total.
Na média geral, por exemplo, 56% dos trabalhadores recebiam até dois salários mínimos em 2019. No caso das pessoas com algum tipo de deficiência, esse percentual foi de 60,1%.
O auxílio-inclusão para quem recebe o BPC está na esteira de mudanças promovidas pelo governo para criar “portas de saída” dos programas sociais, como denominado pelo ministro Paulo Guedes (Economia).
A equipe dele argumenta que essas políticas, inclusive o Bolsa Família, precisam ser reformuladas para que os beneficiários fiquem menos dependentes da transferência de renda.
A proposta para ampliar e mudar o formato do Bolsa Família deve ser apresentada até agosto. O projeto precisa do aval do Congresso.
Entenda o BPC
Quem recebe o BPC
Pessoas de baixa renda com 65 anos ou mais ou pessoas de baixa renda com deficiência. Valor é equivalente a um salário mínimo (R$ 1.100)
Como é hoje
Quem recebe o BPC (R$ 1.100 por mês) perde o direito ao benefício se conseguir um trabalho formal. Ao fim do contrato de trabalho, poderá pedir o BPC novamente
Como fica
Se a pessoa com deficiência conseguir um trabalho formal, o valor do BPC cairá pela metade (R$ 550). Portanto, esse benefício parcial servirá para aumentar a renda (se somando ao salário). Para manter o BPC parcial, o salário não pode ultrapassar dois salários mínimos (R$ 2.200). Será exigido que a pessoa tenha recebido o BPC há pelo menos cinco anos
2,6 milhões
é o número de beneficiários do BPC com deficiência
2,1 milhões
é o número de beneficiários do BPC por idade
300 mil
é a quantidade de vagas a serem preenchidas por pessoas com deficiência nas empresas
Fontes: Ministério da Economia, Ministério da Cidadania e Ipea