A fila de endividados acima de 60 anos —muitos deles aposentados do INSS (Instituto Nacional do Seguro Social)— cresceu entre 2021 e 2022, segundo dados da Serasa. Os números mais recentes, de abril, mostram que a lista dos devedores nesta faixa etária ganhou 751.745 pessoas em um ano.
Em abril de 2021, havia 10,7 milhões de pessoas acima de 60 anos inadimplentes, segundo a Serasa. Neste ano, são 11,4 milhões, alta de 7%. Os dados mostram que houve aumento da inadimplência em todas as faixas etárias. O maior crescimento se deu no grupo dos mais jovens, de até 25 anos, com alta de 9%, e o segundo maior salto foi entre os mais velhos.
Ao todo, o país tem 66,1 milhões de endividados, recorde da série histórica iniciada em 2016. Antes, o pico do endividamento havia sido atingido em abril de 2020, com 65,9 milhões de devedores. As dívidas atuais somam, em média, R$ 4.107,3.
Segundo o economista-chefe da Serasa Experian, Luiz Rabi, a inadimplência, de forma geral, está ligada à inflação e alta dos juros. No entanto, para ele, especialmente na faixa acima de 60 anos, com a maioria aposentado, as dívidas são resultado direto da disparada de preços.
“Basicamente é a inflação o principal fator. Foi justamente quando a inflação superou os 10% que a inadimplência começou a subir, em outubro de 2021. Inflação de dois dígitos você não consegue acompanhar, os salários não acompanham, o reajuste previdenciário também.”
O economista afirma ainda que, mesmo com a reposição da inflação nos benefícios da Previdência Social, a atualização dos valores não acompanha o aumento dos gastos para esta faixa etária. “A inflação está correndo na frente do reajuste, que tem como base os 12 meses anteriores. Também depende muito da cesta de consumo, e o pessoal mais idoso tem remédio, plano de saúde”, afirma.
Juros altos encarecem crédito
A alta de juros, que começou a ser intensificada pelo Banco Central neste ano, também tem contribuído para o endividamento maior. Atualmente, a taxa básica (Selic) está em 13,25% ao ano. “Sabemos que juro alto é o principal remédio para se combater a inflação, mas quando sobe juntamente com a inflação, é um fator que impulsiona a inadimplência porque encarecem as dívidas.”
A orientação de Rabi é para que o consumidor não comprometa mais do que 20% do seu orçamento com dívidas. “Quando você passa disso, a chance de se tornar inadimplente vira exponencial, fica muito fácil.”
Consignado: endividamento do aposentado pode chegar a 45% do benefício
O crédito consignado, o mais barato do país, pode ser uma solução para quem está com dificuldades financeiras, mas também pode comprometer a renda e levar ao endividamento. Neste sentido, a medida aprovada pela Câmara, que elevou para 45% a margem consignável, preocupa.
Pela proposta, que ainda precisa passar pelo Senado, os aposentados e demais beneficiários do INSS, assim como quem recebe Auxílio Brasil, poderiam comprometer até 40% da renda com empréstimo pessoal consignado e até 5% com o cartão de crédito.
Atualmente, o limite é de 40% da renda com o crédito, sendo 35% no empréstimo pessoal e 5% no cartão.
A medida é controversa. Se, por um lado, é um crédito mais barato, por outro, facilita o endividamento. O ideal, segundo o especialista, é renegociar as dívidas. “Hoje o brasileiro deve, em média, para quatro diferentes instituições. Precisa renegociar, pleitear desconto, ampliar o número das parcelas, e colocar em parcelas que cabem no bolso.”