Nome negativado: os Estados onde quase a metade dos adultos está com contas atrasadas

dívidas 22_08_22No momento em que a quantidade de inadimplentes bate recorde no Brasil, como está a proporção de pessoas com nome sujo em cada Estado do país?

 

As variações entre as unidades da federação são significativas, segundo os dados da Serasa Experian.

 

No Amazonas está o dado mais preocupante: há mais adultos inadimplentes (51,8%) do que adultos com as contas em dia. Em seguida, aparecem outros Estados onde a parcela de inadimplentes é de praticamente metade dos adultos, como Rio de Janeiro, Amapá e Distrito Federal — os três com índices superiores a 49%.

 

Na outra ponta, com o índice mais baixo do país, está o Piauí, com “apenas” um terço dos adultos com nome sujo. Santa Catarina (34,8%), Rio Grande do Sul (36,3%) e Alagoas (36,8%) também aparecem entre os Estados onde uma proporção maior de adultos está conseguindo pagar as contas em dia.

 

Veja o ranking completo:

  1. AM — 51,8%
  2. RJ — 49,6%
  3. AP — 49,3%
  4. DF — 49,2%
  5. MT — 47,7%
  6. RR — 47,5%
  7. MS — 45,3%
  8. AC — 44,1%
  9. SP — 43,5%
  10. RO — 42,3%
  11. TO — 42,2%
  12. ES — 41,5%
  13. PE — 41,5%
  14. SE — 41%
  15. GO — 40,4%
  16. CE — 40,3%
  17. RN — 39,9%
  18. PR — 39,7%
  19. MA — 38,4%
  20. MG — 38,3%
  21. PB — 37,9%
  22. BA — 37,2%
  23. PA — 37,1%
  24. AL — 36,8%
  25. RS — 36,3%
  26. SC — 34,8%
  27. PI — 33,6%

 

Uma pessoa está inadimplente a partir do momento em que não consegue pagar uma conta até a data do vencimento. Ela só entra nas estatística de inadimplência da Serasa, no entanto, a partir do momento que a empresa comunica que determinada conta não foi paga.

 

Depois disso, “a Serasa encaminha comunicação — via SMS, e-mail, carta — para o devedor, falando que a pessoa tem dez dias para resolver essa situação e que, caso contrário, o nome dela vai ser negativado”, explica Rabi.

 

O que explica essa variação regional?

Qual é a explicação para essa diferença entre os Estados? O economista Luiz Rabi, da Serasa Experian, diz que é essencial levar em conta a renda per capita para entender a questão da inadimplência, já que “renda per capita é capacidade de pagamento” — ou seja, Estados com essa renda mais alta teoricamente tendem a ter menor inadimplência.

 

Isso ajuda a explicar a situação do Amazonas, que tem a maior taxa de inadimplência do país e também está entre as três menores rendas per capita do Brasil, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

 

Mas o Estado com menor proporção de inadimplentes, o Piauí, também está entre aqueles com menor renda per capita. E o Distrito Federal, unidade da federação com maior renda per capita, está entre as maiores taxas de inadimplência.

 

É que a renda per capita, embora seja um fator relevante, não é o único, argumenta Rabi.

 

“Existem algumas variáveis que de fato pesam e que fazem diferença quando a gente olha a distribuição estadual, segundo nossa análise e acompanhamento histórico desses dados”, diz o economista.

 

Rabi destaca que tem observado que a inadimplência tende a ser menor em Estados que estão inseridos em uma cadeia exportadora de commodities e onde o peso desse setor na economia local é relevante.

 

“Isso faz com que esse Estado tenha uma performance econômica melhor do que a média nacional, ou melhor do que os Estados onde não tem essa característica. Isso explica, por exemplo, porque o Piauí, sendo estado que tem uma renda per capita baixa, tem a menor inadimplência — porque o Piauí é a principal fronteira agrícola da soja, por exemplo.”

 

Com a guerra da Rússia contra a Ucrânia, preços de energia, combustível, alimentos e outras commodities dispararam. Se por um lado isso causa inflação, também gera aumento de renda dos produtores de commodities.

 

Ao mesmo tempo, diz Rabi, o peso do setor de serviços — o mais atingido pelos efeitos da pandemia de covid-19 — na economia do Estado também ajuda a entender a inadimplência. “Se o setor de serviço pesa muito, isso tem sido algo que prejudica a inadimplência”, diz.

 

Esse ponto também ajuda a explicar, aponta ele, a presença do Rio de Janeiro e do Distrito Federal — bastante dependentes do setor de serviços — no topo da lista de inadimplência.

 

Inadimplência recorde no Brasil

 

No Brasil como um todo, são quatro adultos inadimplentes a cada dez, ou 41%. O número de 66,6 milhões de pessoas com nomes negativados registrado em maio é o recorde — o maior desde o começo da série histórica da Serasa Experian, iniciada em 2016. Em relação a maio do ano passado, houve um aumento de 4 milhões de nomes negativados.

 

A inadimplência vem subindo, aponta o economista, “porque a inflação está corroendo o poder de compra e as pessoas não conseguem mais pagar” suas contas. “Isso faz um estrago brutal na capacidade de pagamento de milhões de brasileiros.”

 

Outro fator que agrava a situação, diz ele, é a alta de juros — ferramenta usada exatamente para tentar combater a inflação. Esse aumento, no entanto, encarece o crédito usado por consumidores, como no cheque especial e no rotativo do cartão de crédito, conhecidos por serem os mais altos.

 

A inflação chegou a dois dígitos em setembro de 2021, pela primeira vez desde 2016, segundo dados do IBGE. E continua acima desse patamar: em 12 meses até junho, está em 11,89%, de acordo com os dados mais recentes do IBGE.

 

Nesse cenário, Rabi diz que ainda não dá para vislumbrar quando a inadimplência vai voltar a cair.

 

Na análise por área, os dados de maio mostram que o segmento de bancos e cartões gerou o maior volume de dívidas negativadas (28,2% do total), seguido por contas básicas (água, luz e gás), com 22,7%. Em terceiro lugar, aparecem varejo e financeiras, com 12,5%.