Preços dos alimentos disparam e renda dos brasileiros não acompanha

alimentação 23_12_22Se antes da pandemia os brasileiros já sofriam para dar conta da feira e do supermercado, nos últimos três anos virou um verdadeiro malabarismo tentar não comprometer tanto o orçamento com a cesta de alimentos.

 

Mas a renda dos trabalhadores não tem acompanhado a escalada de preços. Mesmo quando os salários são reajustados pela inflação, a defasagem continua, porque os alimentos têm subido acima dela desde a pandemia. Assim, o poder de compra fica comprometido, ou seja, o que as pessoas ganham não acompanha a alta dos alimentos.

 

Levantamento feito pelo g1 mostra que, enquanto a renda média do brasileiro subiu 19,7% em três anos, os alimentos ficaram 41,5% mais caros.

 

Veja o que mostram os dados:

  • Em outubro de 2019, o rendimento médio mensal do trabalho era de R$ 2.301
  • Em outubro de 2022, esse rendimento era de R$ 2.754 – uma alta de 19,68%
  • No intervalo entre esses meses, a inflação ficou em 22,45%
  • Já os alimentos subiram 41,5%

 

Cesta básica e rendimento

O resultado dessas altas desiguais é que a cesta básica vem comprometendo uma fatia maior da renda das famílias.

 

Dados do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) mostram que, em outubro de 2019, 43,8% do salário mínimo era comprometido com a compra da cesta básica. Neste ano, essa fatia cresceu para 58,78%.

 

Em 2019, o brasileiro precisava trabalhar, em média, 88 horas e 39 minutos para comprar os produtos da cesta básica. Agora, são totalizando 119 horas e 37 minutos.

 

Considerando o rendimento médio do trabalho, em valores nominais, a fatia comprometida pela cesta básica passou de 20,6% para 27,7%. Os dados consideram o valor da cesta básica apurado na capital paulista, o mais alto encontrado pelo Dieese.

 

Veja no gráfico abaixo:

 Screenshot 2022-12-23 at 08-59-38 Preços dos alimentos disparam e renda dos brasileiros não acompanha entenda por quê

 

Os vilões da alta dos alimentos

André Braz, coordenador dos índices de preços do FGV Ibre, aponta que a inflação dos alimentos tem sido praticamente o dobro da inflação média, calculada pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). Nos acumulado em 12 meses até novembro deste ano o IPCA ficou em 5,90%, enquanto os alimentos subiram 11,84%.

 

O g1 não fez a comparação do rendimento médio com a inflação de novembro porque os dados do mercado de trabalho só serão divulgados pelo IBGE em janeiro próximo.

 

“Os salários são orientados pelo IPCA geral ou INPC. Então quem ganha muito pouco e recebe um aumento orientado pelo IPCA médio vai ter perda da qualidade de vida porque não vai conseguir repor a cesta de consumo, composta por alimentos que acumulam o dobro da inflação, e isso vem piorando ao longo dos últimos anos”, explica o economista.

 

Entre os motivos citados por Braz para a alta dos alimentos estão episódios climáticos que prejudicaram a agricultura, a crise hídrica que afetou o preço da energia elétrica e a guerra entre Rússia e Ucrânia que reduziu a oferta de milho, trigo e soja.

 

Braz cita ainda a alta do diesel, que é o combustível usado pelas máquinas no campo e para escoamento da produção agrícola, além da alta de derivados do petróleo como agrotóxicos, adubos e fertilizantes. “Então a produção de alimentos é desafiada pelo custo dos insumos básicos para o plantio, pelo custo do frete e pela própria força de trabalho”, afirma.

 

Para Bruno Imaizumi, economista da LCA Consultores, a alta do dólar, a seca de 2021 e a escassez de insumos afetaram a produção de alimentos. E o encarecimento do preço dos barris de petróleo em 2021 e neste ano também tiveram grande influência sobre os preços.

 

Imaizumi aponta também que a desvalorização do real ante o dólar chegou a 31,5% entre janeiro de 2020 e 12 de dezembro deste ano. “Tivemos também a maior seca do último século no ano passado, o encarecimento das commodities após as expectativas de vacinação e a guerra na Ucrânia que encareceu as commodities energéticas e agrícolas”, diz.

 

O economista do FGV Ibre afirma que as hortaliças e legumes, o açúcar, os derivados do leite e do trigo acumulam uma inflação elevada. E os únicos itens que não têm subido tanto de preço são as carnes. Porém, elas pararam de subir recentemente e se estabilizaram em um nível de preços mais alto.

 

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