Os donos da rua! Até onde vai o direito a guardar vaga de estacionamento

Se você dirige, provavelmente já se deparou com a cena: uma vaga disponível para estacionamento de veículos em via pública está bloqueada com objetos como cones, cavaletes, cadeiras e até engradados de bebidas.

 

Geralmente, essa “reserva” de vaga acontece em frente a estabelecimentos comerciais e é feita pelos responsáveis por esses comércios. Há casos nos quais o bloqueio ao estacionamento de outros automóveis não fica restrito à colocação de obstáculos rente à guia da calçada

 

Além disso, instala-se, de forma totalmente irregular e alheia às autoridades de trânsito, placa com o sinal de proibido estacionar por vezes acompanhada da frase “carga e descarga”.

 

Agir como se a pessoa fosse “dona” da rua, na tentativa de “privatizar” um espaço público para proveito próprio, é ilegal.

 

Obstruir a via pública, inclusive a calçada, sem autorização ou em desacordo com autorização do poder público, mesmo que o indivíduo providencie algum tipo de sinalização, caracteriza infração prevista no Artigo 246 do CTB [Código de Trânsito Brasileiro]” Marco Fabrício Vieira, advogado, escritor e membro da Câmara Temática de Esforço Legal do Contran (Conselho Nacional de Trânsito)

 

De acordo com Vieira, trata-se de uma infração de trânsito gravíssima, que prevê multa de R$ 293,47, podendo ser multiplicada até 5 vezes, “a critério da autoridade de trânsito, conforme risco à segurança”. Assim, a multa pode chegar a R$ 1.467,35.

 

Multa pode ser aplicada mesmo sem veículo envolvido

O especialista destaca que a infração de trânsito, nesse caso, pode ser cometida mesmo sem a utilização de um veículo, segundo prevê a Resolução Contran 926/2022.

 

“Nessas infrações, a Pessoa Física ou a Pessoa Jurídica infratora é identificada no auto de infração por meio de informações como nome, CPF, CNPJ e endereço. Como não há um veículo, a cobrança se dá por outros meios legais, como protesto e inscrição na dívida ativa, por exemplo”.

 

Infrações de trânsito que não envolvem uso de veículo automotor:

  • Estabelecimento obstaculizando acesso a vagas de estacionamento localizadas em suas proximidades com cones de sinalização
  • Caçamba estacionária e ocupando toda extensão da calçada, obstaculizando-a, sem autorização
  • Mesas e cadeiras dispostas da pista, obstaculizando o estacionamento de veículos, sem autorização
  • Acesso a via pública obstaculizado indevidamente por cancela e material de sinalização

 

O que fazer contra “reserva” ilegal de vaga

O cidadão que se sentir lesado tem o direito de solicitar a retirada dos obstáculos para a liberação da vaga de estacionamento. Também pode acionar autoridade de trânsito para que ela aplique a autuação.

 

Vale destacar que a ocupação irregular da via visa para depósito de mercadorias, materiais e equipamentos também é infração de trânsito – nesse caso, descrita no Artigo 245 do CTB, que prevê multa de natureza grave (R$ 195,23) e remoção do material ou da mercadoria.

 

Quando a reserva de vaga é permitida

A reserva de vagas configura privatização do espaço público, esclarece Marco Fabrício Vieira.

 

Ele alerta que a Resolução Contran 965/2022 proíbe expressamente a destinação de parte da via para estacionamento privativo de qualquer veículo – exceto os previstos na própria legislação, mediante sinalização específica, autorizada e instalada por autoridade de trânsito:

 

  • Estacionamento para veículo de aluguel (táxi)
  • Estacionamento para veículo de PCD (pessoa com deficiência)
  • Estacionamento para veículo de pessoa idosa
  • Estacionamento para a operação de carga e descarga
  • Estacionamento de ambulância
  • Estacionamento rotativo
  • Estacionamento de curta duração de até 30 minutos
  • Estacionamento de viaturas policiais
  • Estacionamento de veículos elétricos (exclusivamente durante o período de recarga)

 

Fonte: UOL