O Brasil tinha mais de 15 milhões de endividados de risco no país até o ano passado, segundo os dados mais atualizados do Banco Central do Brasil (BC), de março de 2023. O número responde a cerca de 14% da população tomadora de crédito do Sistema Financeiro Nacional.
O endividamento de risco é uma métrica desenvolvida pelo BC que determina se uma pessoa pode estar no caminho do superendividamento — quando o consumidor não consegue honrar com as dívidas que contraiu sem comprometer o mínimo para a sua sobrevivência.
Segundo o chefe do Departamento de Promoção da Cidadania Financeira do BC, Luis Gustavo Mansur Siqueira, o alto número de pessoas classificadas como endividadas de risco vem na esteira da maior inclusão vista no país nos últimos anos.
“Essa inclusão financeira também trouxe desafios, a maior parte deles relacionado ao crédito”, disse Siqueira no Summit de Impacto Financeiro, evento promovido pelo Nubank, nesta terça-feira (22).
“Ao mesmo tempo em que vemos o sucesso das políticas de inclusão financeira, observamos também uma baixa resiliência financeira pelos brasileiros, um aumento da inadimplência e do superendividamento, muitos brasileiros reportando preocupações financeiras e a prevalência de produtos de crédito de alto custo, em especial para a baixa renda”, acrescentou o banqueiro.
São quatro critérios avaliados pelo BC para determinar se um consumidor é um endividado de risco estão:
- Renda disponível mensal (após o pagamento do serviço de dívidas) abaixo da linha da pobreza;
- Inadimplemento de parcelas de crédito — ou seja, atrasos acima de 90 dias no pagamento dos débitos;
- Multimodalidade, que é a exposição simultânea a três modalidades de crédito: crédito rotativo, cheque especial e crédito pessoal sem consignação; e
- Comprometimento de mais de 50% da renda com o pagamento de dívidas.
“Se o cliente marca dois desses quatro indicadores, o assinalamos como um endividado de risco”, explicou Siqueira.
O banqueiro ainda citou dados do último relatório Global Findex sobre resiliência financeira, que indicou que quase 70% dos brasileiros não conseguiriam pagar uma despesa inesperada que correspondesse à sua renda mensal sem pedir um empréstimo ou ajuda a familiares e amigos.
“Vemos, no Brasil, que 46% das pessoas têm preocupações financeiras. Os dados mostram que o brasileiro está preocupado com sua saúde financeira e vemos que isso também tem relação com a renda. Quanto menor a renda, maior a preocupação”, completou Siqueira.