A combinação das necessidades impostas pela pandemia, dos estímulos fiscais e monetários oferecidos inicialmente pelo governo para enfrentar a crise sanitária e do posterior aumento dos juros fragilizou a situação dos lares brasileiros junto ao sistema financeiro, mas expôs ainda mais as famílias de baixa renda, apontam pesquisadores do Instituto Brasileiro de Economia (FGV Ibre).
Esse será um grande desafio para o novo governo, segundo eles. À frente, dizem, a perspectiva de arrefecimento da atividade e do emprego tende a levar a um comprometimento ainda maior da renda das famílias com dívidas, que já bateu recordes, e a uma alta mais persistente da inadimplência.
Os pesquisadores realizaram uma radiografia detalhada dessa onda de endividamento das famílias, observaram famílias mais pobres se superendividaram nas modalidades mais caras de crédito, o que levou a uma disparada da inadimplência bem mais concentrada nas faixas de renda mais baixas.
Dos quase R$ 3 trilhões da carteira de crédito à pessoa física em julho de 2022 — último dado do Sistema Central de Riscos (SCR) do BC —, a alta renda concentrava quase metade (49%), enquanto 19% estavam na baixa renda. Apesar disso, os mais pobres respondiam por 37% do volume da carteira inadimplente, e a alta renda, por 24%.
A inadimplência como um todo tem subido, mas a alta foi maior na baixa renda, que recorre mais a produtos de crédito sem garantias e, portanto, com custos maiores. A taxa de inadimplência do grupo atingiu, em julho, 10%, 13% e 13%, respectivamente, nas linhas de empréstimo pessoal, cartão de crédito e “outros”, que inclui cheque especial. Para a alta renda, as taxas foram de 3%, 3% e 4%, pela ordem.
“São níveis de inadimplência [da baixa renda] muito elevados”, afirma Silvia Matos, coordenadora do Boletim Macro do FGV Ibre e uma das responsáveis pela análise.