Brasileiros fogem da poupança e retiram R$ 230 bi em 3 anos

A caderneta de poupança completou sete semestres consecutivos com saques maiores do que depósitos. As perdas são justificadas pela baixa rentabilidade da caderneta e o ainda elevado nível de inadimplência da população.

 

Os saques da poupança superaram os depósitos em R$ 2,8 bilhões no primeiro semestre de 2024. O resultado foi originado pela aplicação de R$ 2,03 trilhões e a retirada de R$ 2,04 trilhões no período.

 

Com a sequência negativa, a caderneta amarga o sétimo semestre consecutivo de perdas, que totalizam R$ 229,3 bilhões desde janeiro de 2021.

 

Caderneta só teve resultado positivo de depósitos em 12 dos últimos 42 meses, mostra Banco Central. No período, o volume de aplicações superou por mais de dois meses consecutivos apenas uma vez, entre abril e julho de 2021. A sequência limitou a perda total da poupança naquele ano para R$ 35,5 bilhões. Em 2022 e 2023, as captações líquidas foram negativam em, respectivamente, R$ 103,2 bilhões e R$ 87,8 bilhões.

 

Baixa rentabilidade

A fuga da poupança é associada ao baixo retorno da aplicação. Com a taxa básica de juros fixada acima de 8,5% ao ano desde dezembro de 2021, a caderneta rende 0,5% ao mês + TR (Taxa Referencial). A norma faz com que a aplicação tenha um rendimento na faixa de 7% ao ano, patamar inferior à rentabilidade de opções que oferecem igual segurança e a possibilidade de resgate a qualquer momento.

 

Segundo especialistas, o brasileiro está cada vez mais informado sobre as várias opções para aplicarem seus recursos.  Para driblar o baixo retorno da poupança, os potenciais investidores têm boas opções disponíveis no mercado financeiro. Entre os ativos citados, aparecem os títulos do Tesouro Direto devido à alta liquidez e segurança, os CDBs (Certificados de Depósito Bancário) diários e os fundos com baixa taxa de administração. Investidores mais informados buscam alternativas com melhores retornos, resultando em saques contínuos das cadernetas de poupança.

 

Mesmo diante do cenário, a poupança segue como queridinha. Segundo dados do último Raio-x do Investidor, da Anbima (Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais), a caderneta é o produto financeiro mais utilizado do Brasil.

 

Presente na rotina de quase sete em cada dez (68%) investidores, a aplicação aprece significativamente acima dos títulos privados (13%), dos fundos de investimento (12%) e das moedas digitais (10%).

 

A preferência por poupança se dá nas gerações mais antigas, aqueles que estão acima de 63 anos, os boomers. Se a gente pega as gerações mais novas, a preferência pela poupança vem diminuindo, com uma baixa a preferência na geração Z. Os mais novos estão adeptos a outros investimentos.Camilla Magrini, economista e educadora financeira

 

Inadimplência

O atual nível de população com as dívidas atrasadas é outro fato determinante para a poupança. Em maio, quatro em cada dez brasileiros adultos (41,8%), percentual equivalente a 68,76 milhões de pessoas, segundo a CNDL (Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas). O nível reafirma o maior número de inadimplentes de toda a série histórica da pesquisa.

 

Se a pessoa tem algum recurso guardado na poupança e ela está endividada, ela vai retirar para suprir o seu fluxo de caixa.Camilla Magrini, economista e educadora financeira

 

Ajuda a familiares e amigos endividados também é lembrada. “Muitas pessoas acabam sacando dinheiro da poupança para ajudar parentes e amigos em dificuldades financeiras, prática comum que demonstra a falta de educação financeira”, reforça Reinaldo Domingos.