Jogos virtuais de apostas esportivas entraram de vez no orçamento do brasileiro. O fenômeno abre um debate sobre o quanto o “efeito bets” pode afetar o consumo das famílias e, consequentemente, outros setores da economia.
O Governo Federal recebeu ao todo 113 solicitações de 108 empresas de apostas que desejam operar no Brasil.
Se autorizadas pelo Ministério da Fazenda, as empresas poderão atuar legalmente no país a partir de janeiro de 2025, quando começam a valer as regras da chamada lei das bets.
O Itaú estima que os brasileiros movimentaram R$ 68 bilhões em jogos virtuais – incluindo bets e os do tipo “Tigrinho” – no acumulado de 12 meses até junho.
Varejistas têm manifestado essa preocupação, e consultorias, institutos de pesquisa e bancos tentam estimar a influência das plataformas de apostas e jogos on-line nos gastos do brasileiro em outras atividades, do supermercado ao lazer.
O ano tem sido de expansão no contingente de brasileiros adeptos das apostas on-line, cuja regulamentação entra em vigor em 2025. Levantamento recente do Instituto Locomotiva indica que 52 milhões já apostaram na modalidade ao menos uma vez. Há seis meses, eram 38 milhões.
O mercado de apostas esportivas deve movimentar até R$ 130 bilhões no Brasil este ano, calcula a Strategy&, consultoria estratégica da PwC. No ano passado, o estudo estima que o valor tenha ficado entre R$ 67,1 bilhões e R$ 97,6 bilhões, o que equivale a até 0,9% do Produto Interno Bruto (PIB).
O efeito no orçamento pessoal é apontado como mais significativo para as classes D e E, que têm flexibilidade financeira mais limitada para novos gastos. Os analistas da PwC estimam que as apostas já representam 1,38% do orçamento médio familiar nos estratos sociais de menor renda no país. O índice é cinco vezes o de cinco anos antes: 0,27%. O cálculo leva em consideração dados da Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF) do IBGE.
— Cada vez mais tem uma participação relevante das apostas esportivas no orçamento das famílias brasileiras, o que mexe com a renda final do consumidor. Para as classes mais baixas, já houve substituição de determinados gastos — diz Luciana Medeiros, sócia da PwC e uma das responsáveis pela pesquisa.
O estudo da PwC projeta que a despesa dos brasileiros com apostas esportivas (em todas as classes sociais) somou entre R$ 40 bilhões e R$ 50 bilhões em 2023. É mais de 40 vezes o que se gasta com ingressos de futebol e 12 vezes o que se consome no cinema.