Cai o endividamento das famílias, mas aumenta as contas em atraso

O percentual de famílias que relataram ter dívidas a vencer (cartão de crédito, cheque especial, carnê de loja, crédito consignado, empréstimo pessoal, cheque pré-datado e prestações de carro e casa) reduziu pelo quarto mês consecutivo, alcançando 76,9% em outubro de 2024, similar ao resultado de outubro do ano passado (76,9%). Em setembro de 2024, 77,2% estavam endividados. Essa tendência de queda confirma a maior cautela das famílias com o crédito.

 

Novamente em movimento similar ao mês passado, o alerta dos dados deste mês é que, mesmo com menor endividamento, houve o segundo aumento consecutivo do percentual de famílias com dívidas em atraso, 29,3%. Já a inadimplência entre as famílias de menor renda alcançou 37,7% em outubro, refletindo o impacto dos juros elevados e das condições de crédito mais restritivas sobre o orçamento dos mais vulneráveis.

 

O percentual de famílias que não terão condições de pagar as dívidas em atraso também aumentou, indo para 12,6%, com ambos os resultados se mantendo em nível menor do que em igual mês de 2023. Esses foram os maiores percentuais desde outubro de 2023.

 

O percentual de famílias com dívidas em atraso por mais de 90 dias continuou tendo incremento em relação ao mês anterior, chegando a 50,4% do total de endividados em outubro deste ano, o maior percentual desde fevereiro de 2018, mostrando que, além de ter tido aumento do nível de contas atrasadas, esses atrasos estão permanecendo por mais tempo. Isso porque o aumento das taxas de juros leva a um encarecimento das dívidas.

 

O percentual dos consumidores que têm mais da metade dos rendimentos comprometidos com dívidas seguiu o mesmo caminho e continuou a apresentar alta, atingindo 20,5%, o maior percentual desde maio de 2024. Com isso, o percentual médio de comprometimento da renda com dívidas foi de 29,9% em outubro, ligeiramente maior em relação ao mês anterior, revelando que as dívidas estão representando um percentual cada vez maior da renda das famílias.

 

 

O percentual de comprometimento da renda mais desafiador ajuda a explicar o aumento do percentual de famílias que não terão condições de pagar as contas atrasadas, mostrando que os prazos mais longos das dívidas e menor endividamento não estão sendo suficientes para compensar a alta do nível de juros.

 

Projeções da CNC mostram que o endividamento deve voltar a aumentar no último bimestre do ano, com as famílias utilizando o crédito para as compras de fim de ano. Tendo efeito na tendência de alta do percentual de famílias com dívidas em atraso, o que deve continuar gerando atenção.

 

Cartão de crédito e cheque especial registram mudanças no uso

O cartão de crédito continua liderando o ranking, com 83,5% das famílias endividadas utilizando essa forma de pagamento em outubro, embora tenha apresentado uma queda em relação aos 87% no mesmo mês do ano passado.

 

Por outro lado, o crédito pessoal registrou um aumento, passando de 9,4% em outubro de 2023 para 12% em outubro de 2024, atingindo o maior nível do ano. Esse aumento reflete uma preferência dos consumidores por modalidades de crédito com taxas mais competitivas em um cenário de juros elevados. Em contraste, o uso de cheque especial caiu para 3,6%, o menor índice desde o início deste ano.

 

CLASSE MÉDIA ALTA REDUZ ENDIVIDAMENTO, TENDO MAIOR CONTROLE SOBRE A INADIMPLÊNCIA

Ao analisar os dados desagregados por renda, pode-se perceber que na comparação mensal a maior parte da população reduziu seu endividamento independentemente da renda, com aumento apenas entre aqueles que recebem até 3 salários mínimos, necessitando desses recursos para seu consumo.

 

Em relação ao aumento do percentual de famílias que não terão condições de pagar essas dívidas, também foi concentrado na parcela de menor renda, tendo um aumento para as famílias com até 5 salários mínimos.

 

Tendência similar é observada no indicador dos consumidores que não terão condições de pagar dívidas atrasadas. Nesse caso, apenas as famílias com renda entre 5 e 10 salários conseguiram reduzir o percentual, tendo todas as outras mostrado maior dificuldade de arcar com suas contas.

 

Revelando que aquelas com maior renda estão sendo mais cautelosas e reduzindo seu endividamento, tendo resultado ao conseguir reduzir a parcela das contas atrasadas. Uma possibilidade é estarem aproveitando o momento de maior rentabilidade com juros para trocar o consumo por investimento. Uma estratégia que deve ser considerada com cautela, dado que o grupo com rendimentos acima de 10 salários continua apresentando acréscimo no percentual que não terá condições de pagar dívidas atrasadas.

 

MULHERES REDUZEM DÍVIDAS EM ATRASO, TENDO MENOR AVANÇO NA INADIMPLÊNCIA

A queda do nível de endividamento foi influenciada por ambos os gêneros, com as mulheres apresentando retração de 0,7 p.p. em relação ao mês anterior e os homens 0,1 p.p. Enquanto elas alcançaram nível abaixo do apresentado em outubro do ano passado (-1,9 p.p.), os homens permanecem em patamar de endividamento maior nessa comparação (+0,7 p.p.).

Ambos os gêneros tiveram aumento mensal das contas em atraso com o público feminino tendo menor incremento (+0,1 p.p. contra +0,3 p.p.).

 

No entanto, para as mulheres, o nível apresentado se encontra menor do que em outubro de 2023 (-1,9 p.p.). Ou seja, as mulheres reduziram as suas dívidas, tendo avanço menor nas contas atrasadas, enquanto os homens também se endividaram menos, mas tiveram maior aumento de suas contas atrasadas.