Com dívidas e inflação alta, brasileiros começam 2022 angustiados com a economia

angustiado 06_01_21A maioria dos brasileiros  só vê números no vermelho: a alta inflação no Brasil e as complicações resultantes da pandemia os obrigaram a se endividar cada vez mais, embora isso fique cada vez mais caro com o aumento das taxas de juros.

 

Apesar de 2021 se antecipar como o ano da recuperação econômica após a pandemia, a crise volta a castigar os brasileiros, incluindo a classe média.

 

Preocupa especialmente a inflação de 10,74% em 12 meses até novembro, que corroeu o poder de compra. Para contê-la, o Banco Central aumentou de 2% a 9,25% a taxa básica de juros, a Selic, entre março e dezembro, arrastando as outras taxas do mercado.

 

Assim, preocupados com despesas e dívidas em atraso, este aumento representa um peso extra, sem ainda se refletir no alívio na inflação.

 

A taxa média do crédito rotativo para financiar o cartão disparou em novembro a 346,1% ao ano, após uma alta de 18,3% em 2021.

 

Assim, muitas famílias brasileiras recorreram a este tipo de crédito diante da perda do poder aquisitivo e já “se vê uma parte maior da renda das famílias dedicada a cobrir os juros”, explica Rachel de Sá, chefe de economia da Rico Investimentos.

 

Efeito cascata

A inflação, assim como o aumento da taxa básica de juros, estão afetando o consumo, principal motor da economia brasileira.

 

“O custo do dinheiro mais caro impacta, sobretudo, no consumo de bens duráveis, como eletrodomésticos e veículos”, diz Fernanda Mansano, economista-chefe da plataforma de educação financeira TC.

 

A demanda destes bens, geralmente financiados, recuou 4,9% ao mês em outubro.

 

Os indicadores econômicos refletem uma deterioração mais ampla: menos demanda de bens e serviços e uma atividade industrial debilitada, que recuou em outubro pelo quinto mês consecutivo, multiplicando as preocupações com um mercado de trabalho em lenta recuperação, alerta Mansano.

 

O índice de desemprego caiu para 12,1% no trimestre de agosto a outubro em comparação com o anterior, mas com maior informalidade. Cerca de 12,9 milhões de brasileiros estão desempregados e 38,2 milhões trabalham na informalidade em uma força laboral que totaliza 106,9 milhões.

 

Isaac Coelho, morador de Embu das Artes, na região metropolitana de São Paulo, faz parte dos 40,7% com empregos precários.

 

“A coisa apertou aqui em casa pela pandemia e tive que sair para trabalhar”, conta o jovem de 18 anos, entregador de aplicativo.

 

A situação da Covid-19 melhorou, com 67% da população vacinada, mas a escalada de preços o impediu de deixar seu emprego.

 

“Dá pra tirar uma graninha boa, mas cansa. Dá pra cobrir alguns gastos como o botijão de gás, que estava R$ 50, R$ 60, e agora chegou a R$ 100”, diz.

 

A fragilidade do mercado de trabalho se reflete, ainda, na remuneração média real (sem inflação), que caiu ao menor nível desde 2012, a R$ 2.449 mensais.