O governo federal pagará, até o final de dezembro, auxílios a diversas categorias, após manobra que dribla a legislação eleitoral, cria estado de emergência no Brasil e eleva os gastos públicos em R$ 41,25 bilhões às vésperas da eleição.
O secretário especial adjunto de Tesouro e Orçamento do Ministério da Economia, Julio Alexandre, informou que, para vigorar, quatro dos sete benefícios previstos na proposta de emenda à Constituição (PEC) que cria um pacote social em ano eleitoral dependem de regulamentação.
A regulamentação de uma lei consiste na publicação, em um ato posterior, dos detalhes e das regras para que esses benefícios sejam aplicados. Há leis que, já na publicação, definem o prazo para essa regulamentação.
A PEC, aprovada pelo Congresso Nacional a menos de três meses das eleições, é chamada por críticos de “PEC Kamikaze” e de “PEC do Estelionato Eleitoral” e por apoiadores, de “PEC das Bondades”, aumenta o Auxílio Gás para R$ 120 (o último valor pago foi de R$ 53), cria o auxílio de R$ 1.000 para caminhoneiros, determina auxílio para taxistas —ainda sem valor definido— e prevê liberação de verbas a estados para custear transporte de idosos e imposto do etanol, além de R$ 500 milhões para o programa Alimenta Brasil.
O que depende de regulamentação
Segundo o secretário do Ministério da Economia, os benefícios abaixo precisam de regulamentação federal:
- Caminhoneiros: criação de um “voucher” de R$ 1 mil (custo estimado: R$ 5,4 bilhões);
- Taxistas: benefícios para taxistas devidamente registrados até 31 de maio de 2022 (custo estimado: R$ 2 bilhões);
- Transporte de Idosos: compensação aos estados para atender a gratuidade, já prevista em lei, do transporte público gratuito de idosos (custo estimado: R$ 2,5 bilhões).
A regulamentação federal desses pontos é necessária, segundo o Ministério da Economia, porque são benefícios novos. A necessidade de regulamentação já foi prevista na PEC.
Além disso, o repasse de até R$ 3,8 bilhões, por meio de créditos tributários, para a manutenção da competitividade do etanol sobre a gasolina depende de regulamentação por leis estaduais.
Sem regulamentação
Segundo Julio Alexandre, os seguintes benefícios dependem somente de edição de MP pelo governo para valer:
- Auxílio Brasil: ampliação de R$ 400 para R$ 600 mensais (custo estimado: R$ 26 bilhões);
- Auxílio-Gás: ampliação de R$ 53 para o valor de um botijão a cada dois meses (custo estimado: R$ 1,05 bilhão);
- Alimenta Brasil: repasse de R$ 500 milhões ao programa Alimenta Brasil, que prevê a compra de alimentos produzidos por agricultores familiares e distribuição a famílias em insegurança alimentar, entre outras destinações.
O crédito extraordinário fica fora do teto de gastos e é aberto, via medida provisória, pelo próprio governo. Basta ao Ministério da Cidadania, responsável pelos programas Auxílio-Brasil, Auxílio-Gás e Alimenta Brasil, solicitar os recursos adicionais.
Veja em detalhes cada benefício:
Dos sete benefícios que estão sendo criados, três deles precisam de regulamentação dos ministérios competentes, o que ainda não tem data para ser feito, mas, segundo informações obtidas pela Folha, deve ocorrer o quanto antes.
O novo Auxílio Brasil deverá ser pago em cinco parcelas R$ 600, a partir de agosto, para quem faz parte do CadÚnico (Cadastro Único). A intenção é incluir mais 2 milhões de famílias e pagar o benefício temporário a 20,2 milhões de brasileiros. Esse benefício já está regulamentado e não deve mudar.
Para receber, é necessário que a família esteja em situação de:
- Extrema pobreza, com renda de até R$ 105 por pessoa da família (per capita)
- Pobreza, com renda entre R$ 105,01 e R$ 210 por pessoa da família (per capita)
- Em regra de emancipação, que é quando o beneficiário conquista um emprego formal, mas segue com direito de receber o benefício se a renda por pessoa da família for de até R$ 525
No caso do Auxílio Gás, o benefício será pago a pelo menos 5,4 milhões de famílias a partir do mês de agosto. Essas famílias também devem estar inscritas no CadÚnico. Serão três parcelas de R$ 120, em agosto, outubro e dezembro, já que o benefício é bimestral. As regras do auxílio também já estão regulamentadas e não deverão passar por mudanças.
O benefício é pago a famílias inscritas no CadÚnico, com renda familiar mensal menor ou igual a meio salário mínimo por pessoa (R$ 606 neste ano), incluindo as que recebem outros benefícios de programas do governo.
Para ter direito, é preciso estar com o cadastro atualizado nos últimos 24 meses. Têm prioridade as famílias com menor renda por pessoa, com a maior quantidade de pessoas, que recebam o Auxílio Brasil e que tenham mulheres vítimas de violência doméstica que estejam sob o monitoramento de medidas protetivas de urgência.
CALENDÁRIO DE PAGAMENTO DO AUXÍLIO BRASIL DE R$ 600
Final do NIS | Agosto* | Setembro | Outubro* | Novembro | Dezembro* |
1 | 18 | 19 | 18 | 17 | 12 |
2 | 19 | 20 | 19 | 18 | 13 |
3 | 22 | 21 | 20 | 21 | 14 |
4 | 23 | 22 | 21 | 22 | 15 |
5 | 24 | 23 | 24 | 23 | 16 |
6 | 25 | 26 | 25 | 24 | 19 |
7 | 26 | 27 | 26 | 25 | 20 |
8 | 29 | 28 | 27 | 28 | 21 |
9 | 30 | 29 | 28 | 29 | 22 |
0 | 31 | 30 | 31 | 30 | 23 |
*Beneficiários com direito também recebem o Auxílio Gás
No caso de quem recebe o Auxílio Brasil e for contemplado também com o Auxílio Gás, o pagamento do benefício no mês em que houver a liberação das duas rendas chegará a R$ 720 por família.
O que ainda precisa de regulamentação
Segundo o secretário especial adjunto de Tesouro e Orçamento do Ministério da Economia, Julio Alexandre, há auxílios que precisam de regulamentação a ser feita pelos ministérios. Esse é caso do auxílio-caminhoneiro, do auxílio-taxista e dos benefícios para idosos e para custear etanol nos estados.
Há ainda o programa Alimenta Brasil, que vai receber R$ 500 milhões, mas, como já é pago pelo Ministério da Cidadania, não há necessidade de nova regulamentação, informou o Ministério da Economia.
Auxílio-caminhoneiro e auxílio-taxista não têm data
Segundo a ANTT (Agência Nacional de Transportes Terrestres), o auxílio-caminhoneiro de até R$ 1.000 deve beneficiar 872.320 profissionais com cadastro de TAC (Transportador Autônomo de Cargas) feito até 31 de maio deste ano.
Não se sabe ainda quais as regras para receber, como e onde será feito o depósito e como fazer a consulta para ter o dinheiro.
O auxílio-taxista deve ser regulamentado pelos Ministérios da Infraestutura e do Desenvolvimento Regional. O valor do benefício pago a cada taxista ainda não está definido. Sabe-se apenas que será pago a profissionais registrados até 31 de maio deste ano.
No caso dos valores para custear o transporte de idosos conforme prevê o Estatuto do Idoso e do montante a ser destinado a estados que zerarem o ICMS do etanol é necessária regulamentação estadual e municipal para o repasse.
Segundo a PEC, todos os benefícios acabam em dezembro.