Correios: queda nas receitas, gastos com pessoal e modelo de negócios levam à derrocada financeira

Foco de crises no atual mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, os Correios deixaram de ser lucrativos e passaram a ter prejuízos crescentes, com um rombo que chegou a R$ 4,37 bilhões apenas nos dois primeiros trimestres de 2025.

 

As perdas se acumulam desde o último ano do mandato de Jair Bolsonaro e foram agravadas sob a gestão do PT. Procurada, a estatal culpa a gestão Bolsonaro pela crise.

 

Falta de receita e aumento de gastos com pessoal são alguns dos fatores que explicam a derrocada financeira dos Correios. Nesta quarta-feira (15), a estatal anunciou que busca R$ 20 bilhões em financiamentos para tentar conter a pior crise de sua história recente.

 

O pedido de crédito ocorre após a divulgação de um prejuízo de R$ 4,3 bilhões no primeiro semestre de 2025, o maior em oito anos.

 

Segundo a empresa, o dinheiro será usado para reforçar o caixa, modernizar a infraestrutura logística e quitar dívidas judiciais e trabalhistas. A captação deve envolver organismos internacionais e bancos públicos.

 

Despesas em alta

Entre janeiro e junho, as despesas administrativas chegaram a R$ 3,4 bilhões, alta de 74% em relação ao mesmo período do ano passado.

 

Os gastos incluem reajustes salariais concedidos a 55 mil funcionários, precatórios e dívidas trabalhistas.

 

Queda nas receitas

Enquanto as despesas subiram, a receita despencou mais de R$ 1 bilhão no semestre.

 

A principal queda ocorreu nas encomendas internacionais, cuja arrecadação caiu 62% — de R$ 2,1 bilhões para R$ 815 milhões.

 

O resultado foi impactado pela “taxa das blusinhas”, que passou a tributar compras estrangeiras de até US$ 50 e reduziu o volume de postagens vindas do exterior.

 

No balanço, os Correios afirmam que enfrentam “restrições financeiras decorrentes de fatores externos que afetaram diretamente a geração de receitas”.

 

Plano de recuperação

Para tentar reverter o cenário, a empresa lançou em maio um plano de recuperação financeira, que prevê corte de custos e diversificação das fontes de receita.

As medidas incluem:

▶️redução de 20% dos cargos comissionados;

▶️Programa de Desligamento Voluntário (PDV);

▶️suspensão temporária de férias;

▶️redução de jornada de trabalho;

▶️venda de imóveis ociosos;

▶️criação de um marketplace próprio ainda em 2025.

 

A estatal espera economizar até R$ 1,5 bilhão e aumentar a receita com novos serviços e parcerias comerciais.

 

Resistência dos sindicatos

As medidas enfrentam resistência de entidades sindicais, que pedem garantias trabalhistas e mais diálogo com a gestão.

 

A Federação Interestadual dos Sindicatos dos Trabalhadores e Trabalhadoras dos Correios (Findect) solicitou que o PDV não provoque déficit de pessoal e que a suspensão de férias seja discutida regionalmente.

 

A entidade também cobra garantias de retorno à jornada integral para empregados que aderirem à redução de horas.

 

Situação crítica

Mesmo com o plano de recuperação, a estatal acumula 11 trimestres consecutivos de prejuízo e depende da injeção de recursos externos para manter as operações em 2026.

 

Internamente, técnicos admitem que a situação exige revisão estrutural do modelo de negócios, já que a combinação de queda nas receitas e aumento nos custos ameaça a sustentabilidade da empresa a médio prazo.