A fatia de renda das mulheres que é comprometida com o pagamento de dívidas bateu recorde, neste começo de ano. Levantamento da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC) mostra que 30,5% do orçamento mensal das mulheres estava destinado a quitar empréstimos em janeiro de 2024. É a maior proporção entre as mulheres endividadas desde o início da série para esse dado, em maio de 2021.
A pesquisa é um recorte por gênero da Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic), da CNC. Os dados para a Peic são coletados em todas as capitais dos Estados e no Distrito Federal, com aproximadamente 18 mil consumidores.
O número também é ligeiramente superior à parcela da renda dos homens usada para pagar dívidas, de 30,3%, e da média nacional — homens e mulheres — para o mesmo fim, de 30,4%.
Apesar de as fatias de renda de homens e mulheres comprometidas com empréstimos serem próximas uma da outra, houve, no caso feminino, um crescimento maior. Desde meados de 2023, a proporção da renda das mulheres comprometida vem crescendo acima da dos homens e atingiu a parcela recorde em janeiro de 30,5%.
Também na Peic a parcela de mulheres endividadas aumentou de 78,3% em dezembro para 79% em janeiro. Foi a mais elevada entre as mulheres desde setembro do ano passado (79,1%) e a maior da série para meses de janeiro. No caso dos homens, a parcela de endividados também acelerou, mas de forma menos intensa: de 76,9% para 77,2% entre dezembro e janeiro.
De acordo com especialistas ouvidos pela reportagem, os números refletem uma “tempestade perfeita” no orçamento da mulher brasileira nos últimos anos. Ao mesmo tempo em que as mulheres continuam a ganhar menos do que os homens, elas tomaram para si mais despesas da casa. Isso ocorreu porque houve crescimento de domicílios chefiados por mulheres, especialmente sem cônjuge, dizem os especialistas.