Fim do plástico? cientistas brasileiros criam papel vegetal impermeável e antibacteriano

Um grupo de cientistas brasileiros desenvolveu um papel feito a partir de fibras vegetais e látex natural capaz de substituir o plástico em embalagens. O material, segundo o Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais (CNPEM), combina resistência mecânica, impermeabilidade e ação antibacteriana, sem deixar de ser biodegradável e reciclável.

 

O estudo foi publicado no periódico “Chemical Engineering Journal” por pesquisadores do Laboratório Nacional de Nanotecnologia (LNNano/CNPEM), em parceria com a Unicamp e a UFABC.

 

O novo material é produzido a partir da interação eletrostática entre nanocelulose catiônica, extraída do bagaço da cana-de-açúcar, e látex natural da seringueira. As cargas opostas dessas substâncias se atraem, formando camadas alternadas que revestem o papel com firmeza e estabilidade.

 

Cada componente desempenha um papel complementar: a nanocelulose cria uma barreira densa contra gases e óleos, enquanto o látex confere resistência à água, explica Juliana Bernardes, pesquisadora do LNNano e uma das responsáveis pelo estudo.

 

Desempenho superior aos revestimentos sintéticos

Nos testes laboratoriais, o papel com cinco camadas reduziu em 20 vezes a passagem de vapor de água e em 4 mil vezes a permeabilidade ao oxigênio. Também atingiu o nível máximo de resistência a óleos e gorduras e eliminou mais de 99% das células de Escherichia coli após contato direto.

 

Os resultados mostram que a combinação entre nanocelulose e látex natural pode superar revestimentos convencionais feitos com polímeros sintéticos, sem uso de compostos fluorados (PFAS), frequentemente associados a riscos ambientais e à contaminação de solos e águas.

 

Os pesquisadores avaliam que o material tem potencial para substituir embalagens, sobretudo nos ramos alimentício e cosmético. “”Nosso objetivo foi criar uma alternativa viável para reduzir a dependência de plásticos descartáveis”, explica Juliana Bernardes.

 

Reaproveitamento e escala industrial

Diferentemente de outros papéis impermeáveis, o novo material mantém sua reciclabilidade. Ele pode ser reaproveitado no ciclo produtivo sem perda de propriedades, segundo o CNPEM.

 

Para a etapa seguinte, o desafio será ampliar a produção. “Para viabilizar essa tecnologia em escala industrial, é fundamental estabelecer parcerias com empresas interessadas. (…) O custo projetado mostrou-se competitivo em relação às resinas poliméricas tradicionalmente empregadas”, afirma Juliana Bernardes.

 

Pesquisa colaborativa e patente registrada

O trabalho reuniu pesquisadores das áreas de química, engenharia química e biologia, responsáveis pela formulação das camadas, pelo processo de deposição e pelos testes antimicrobianos.

 

O projeto recebeu financiamento da Fapesp e do CNPq, e já resultou em pedido de patente no Brasil.

 

“Para o desenvolvimento deste projeto, foi composta uma equipe multidisciplinar, reunindo especialistas em química, engenharia química e biologia. (…) A integração dessas áreas do conhecimento foi determinante para viabilizar a transição de uma proposta laboratorial para um material com potencial de aplicação industrial”, explica a pesquisadora.