Ignorados por governos, relatos sobre fraudes no INSS já circulavam nas redes desde 2019

Na mira de uma futura CPI no Congresso, os descontos indevidos a aposentados e pensionistas do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) já eram relatados e denunciados publicamente há pelo menos seis anos em plataformas digitais sem gerar, no período, nenhuma movimentação do poder público, tanto durante o governo de Jair Bolsonaro quanto na atual gestão, de Luiz Inácio Lula da Silva.

 

O quadro é apontado por um levantamento inédito feito pela Escola de Comunicação da FGV, que identificou antigas e constantes menções aos descontos indevidos feitos por associações que se tornaram alvo da Operação Sem Desconto, deflagrada em abril pela Polícia Federal e Controladoria-Geral da União (CGU) para desarticular o esquema.

 

Com o auxílio de inteligência artificial, os pesquisadores da FGV analisaram 152 mil vídeos e varreram diferentes bases de dados. Apenas no YouTube foram localizados 108 vídeos com denúncias e dicas sobre formas de cancelar as retiradas e reaver valores desviados das aposentadorias, entre janeiro de 2019 e março de 2025, nos maiores canais sobre Previdência do país. Ao todo, esses conteúdos tiveram juntos 750 mil visualizações — com alta no volume principalmente em 2024.

 

Foram identificadas ainda mais de 142 mil pesquisas no Google Trends, desde 2019, com os nomes das associações suspeitas de terem se beneficiado com os descontos aos aposentados e pensionistas, além de mais de 30 mil reclamações sobre as cobranças indevidas no Reclame Aqui e dez mil peças processuais relacionadas ao tema registradas no Jusbrasil, uma das principais plataformas jurídicas do país.