Enquanto a inflação corrói o poder de compra dos brasileiros, a proporção de famílias com dívidas ou contas em atraso no país bateu recorde em maio. Dados divulgados nesta terça-feira (7) pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), mostram que 28,7% das famílias estavam inadimplentes, maior percentual desde janeiro de 2010, quando ficou em 29,10%.
Os dados são da Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic) e apontam, também, que:
- 10,8% dos inadimplentes dizem não ter condições de pagar as dívidas;
- comprometimento médio da renda com dívidas atinge maior patamar desde agosto;
- percentual com mais de 50% da renda comprometida com dívidas é o maior em 5 anos;
- proporção de famílias endividadas tem ligeira queda na comparação com abril;
- pela primeira vez desde novembro de 2020 endividamento cai nas duas faixas de renda;
- endividamento com cartão de crédito atinge nível recorde entre famílias com maior renda.
Em maio, quando foi realizada a pesquisa, 10,8% das famílias endividadas disseram não ter condições de pagar as dívidas, pouco abaixo do registrado em abril (10,9%), mas 0,3 ponto percentual (p.p.) acima de maio do ano passado, quando essa proporção era de 10,5%.
“As famílias estão enfrentando dificuldades para honrar suas dívidas no mês, pois já estão com o orçamento muito apertado não só por conta das dívidas, mas também pela inflação ao consumidor acima dos 12% anuais. O comprometimento médio da renda familiar com dívidas chegou a 30,4% em maio, a maior proporção desde agosto de 2021. Do total de endividados, 22,2% precisaram de mais de 50% da renda para pagar dívidas com bancos e financeiras, proporção mais elevada desde dezembro de 2017”, diz a nota divulgada pela CNC.
“A dificuldade em honrar as dívidas é influenciada, entre outros fatores, pela inflação, ao consumidor, persistente acima dos 12% anuais”, apontou a CNC.
Em maio, o país registrou a maior taxa de inflação acumulada em 12 meses desde 2003, conforme dados prévios divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Percentual de endividados desacelera
Na passagem de abril para maio, caiu de 77,7% para 77,4% a proporção de famílias endividadas no Brasil, o que corresponde a um recuo de 0,3 p.p. Na comparação com maio do ano passado, porém, esse percentual aumentou em 9,8 p.p.
A CNC destacou que foi a primeira vez, desde novembro de 2020, que essa desaceleração foi observada nas duas faixas de renda da pesquisa.
O presidente da CNC, José Roberto Tadros, atribui essa desaceleração aos programas de transferência de renda, como saques extras do FGTS, antecipações do 13º salário e o Auxílio Brasil, além da melhora no mercado de trabalho.
“São medidas essenciais para apoiar as famílias no pagamento de dívidas e despesas e que permitem ainda a manutenção do consumo e a consequente movimentação da economia”, avaliou.
Gastos com serviços aumentam endividamento no cartão
A CNC destacou que, embora tenha recuado 0,3 p.p. na comparação com abril, em um ano a proporção de famílias com dívidas com cartão de crédito aumentou em 7,6 p.p, taxa acima da média trimestral.
O cartão de crédito é o tipo de dívida mais comum entre os brasileiros. Mas foi entre as famílias de maior renda que houve maior aumento de dívidas, puxado pelos gastos com serviços.
“A flexibilização da pandemia e a vacinação contra covid-19 têm possibilitado a retomada do consumo de serviços, como viagens, lazer e entretenimento, habitualmente pagos com cartão de crédito pelos consumidores na faixa de maior renda”, apontou a economista responsável pela pesquisa, Izis Ferreira.