Inflação se espalha e afeta 8 em cada 10 itens pesquisados pelo IBGE

inflação em alta 04_05_22A inflação segue sem dar trégua no país e passou a afetar uma quantidade maior de preços. O índice de difusão da inflação, que mede a quantidade de produtos e serviços que subiram no mês em relação ao total de itens pesquisado pelo IBGE, saltou para 78,7% em abril, de acordo com os dados do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo 15 (IPCA-15, que é considerado a prévia da inflação oficial do país.

 

Isso significa que praticamente 8 em cada 10 itens pesquisados ficaram mais caros.

 

Levantamento do Banco Modal, a partir da série histórica do IPCA-15, mostra que o índice de difusão foi o maior já registrado para meses de abril e o mais elevado para um mês desde fevereiro de 2003, quando ficou em 78,9%.

 

Em abril do ano passado, estava em 61%. Em dezembro de 2021 ainda estava abaixo de 70% e, em março deste ano, chegou a 75,5%.

 

Mais do que refletir a escalada dos preços, o indicador revela que a inflação está mais espalhada. “Um índice de difusão maior representa que o processo inflacionário está mais disseminado, dificultando o seu controle”, explica Felipe Sichel, estrategista-chefe do Banco Modal.

 

Ou seja, as altas que eram mais pontuais ou concentradas em alguns grupos ou “vilões” ganharam um efeito dominó e estão sendo transmitidas para o conjunto geral de preços.

 

Dos 367 produtos e serviços pesquisados pelo IBGE, 289 ficaram mais caros em abril.

 

O resultado da inflação oficial de abril será divulgado pelo IBGE no dia 11. Puxada pela alta dos combustíveis, a prévia da inflação registrou a maior alta para o mês desde 1995, com a taxa no acumulado em 12 meses chegando a 12%. Já são 8 meses seguidos com a inflação anual acima dois dígitos.

 

Índices de difusão acima de 75% costumam ser raros. O levantamento do Modal mostra que, desde o final de 1999, taxas nesse patamar só foram registradas 11 vezes. O pico histórico foi registrado em dezembro de 2002 (86,7%).

 

O especialista André Braz, coordenador do Índice de Preços ao Consumidor (IPC) do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV/IBRE) explica que a inflação tem se sustentado em patamares mais elevados em meio aos choques provocados pela pandemia de coronavírus e pela guerra na Ucrânia.

 

“O índice está superalto, quase encostando em 80%. Acima de 70% é raramente visto. Isso mostra o espalhamento das pressões inflacionárias. A inflação está bem espalhada entre todos os segmentos de despesas”, afirma Braz.

 

Inflação vai dar trégua?

O Itaú, por exemplo, projeta IPCA de 1,01% em abril, recuando para 0,29% em maio e passando para 0,46% em junho.

 

Apesar da inflação persistente e mais espalhada, a expectativa dos analistas é que ela apresente alguma desaceleração a partir dos próximos meses.

 

Entre os fatores que devem contribuir para uma menor pressão inflacionária está o fim da bandeira tarifária escassez hídrica e início de bandeira verde, o que tende a baratear ao menos temporariamente o custo da energia elétrica e atenuar os reajustes nas contas de luz.

 

“Outro fator importante é que os preços dos combustíveis estão mais estáveis. A gasolina e o diesel não estão no radar com tendência de alta. Isso vai fazer com a que a participação deles na inflação também desacelere um pouco. Com isso, a expectativa é que o índice de difusão também deve ceder um pouco”, avalia Braz.

 

Para tentar frear a inflação, o Banco Central tem elevado a taxa básica de juros, que está atualmente em 11,75% e deve subir novamente nesta semana. O mercado projeta a Selic chegando a 13,25% ao ano no final de 2022.

 

“Mais do que dizer se o índice de difusão subirá mais ou menos, pode-se dizer que o índice de difusão tão elevado provavelmente indica que a inflação ficará pressionada pelos próximos meses”, alerta Sichel.

 

O mercado financeiro elevou para 7,89% a estimativa para a inflação fechada neste ano, de acordo com a última pesquisa Focus do Banco Central. Foi a 16ª alta seguida no indicador. No entanto, desde o ano passado, os analistas já preveem que a inflação fechará pelo 2º ano seguido acima do teto da meta do governo, que tinha sido fixada em 3,5% para 2022.

 

Em 2021, o IPCA somou 10,06%, o maior desde 2015.