A inflação que atualmente atinge o país não está concentrada em apenas determinados grupos de produtos e serviços. Os reajustes estão disseminados.
A saúde da economia pode ser medida por índices. A inflação é um deles. Tem outro, que pouco se fala, mas todo mundo tem sentido pesar no bolso: o que mostra se são poucos ou muitos os preços em alta. Em outras palavras, o quanto a inflação está espalhada.
E já faz meses que esse índice, chamado de difusão, tem preocupado os economistas.
Antes da pandemia, costumava ficar na faixa que vai de 50% a 60% por mês, algo como metade ou pouco mais dos itens pesquisados pelo IBGE aumentavam de preço. Desde setembro de 2020, a difusão não baixa de 60%.
E hoje já está acima do patamar de 70%, chegando em março ao maior percentual em seis anos: 76%. O IBGE pesquisa 377 itens que compõem a inflação oficial do País medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). Destes, 287 registraram aumento em março, aponta levantamento da LCA Consultores. Em dezembro do ano passado, essa marca tinha sido atingida e era a maior desde o início da série em agosto de 1999.
“O índice de difusão de 76% do IPCA indica que 76% de todos os itens que compõem o IPCA sofreram aumento no último mês, tiveram aumento no mês de março. Isso é preocupante. Por quê? Apresenta uma inflação mais generalizada, ou seja, uma inflação que não é focalizada, localizada em um item ou em produto. Uma inflação que tem atingido quase tudo que os brasileiros consomem de produtos e serviços”, afirma Joelson Sampaio, professor de Economia da FGV.
Os economistas dizem que o contágio da inflação tem algumas origens. A mais importante agora é a alta dos combustíveis, que não pesa só no custo do nosso transporte, mas também no do frete.
No Brasil, a maior parte das mercadorias viaja de um lugar para o outro de caminhão, e esse custo, maior, é repassado para o preço de todo tipo de mercadoria.
“A gente teve dois grupos agora no caso de março que puxaram mais a inflação, que foram transportes e alimentação e bebidas. São os grupos que têm o maior peso no índice oficial. No entanto, a gente observou também aceleração de preços em outros grupos, como a parte de vestuário, a parte também de saúde e cuidados pessoais. E também tem outro fator que vem desde lá o começo da pandemia, que houve um desarranjo nas cadeias globais de produção”, explica Pedro Kislanov, gerente do IPCA.
“Quando nós temos uma inflação mais localizada em um produto, em um serviço, é uma inflação mais passageira. Quando a gente tem uma inflação mais espalhada, mais generalizada, que é o que o índice de difusão nos traz, essa é uma inflação mais difícil de ser controlada. Por isso que o governo tem uma política monetária mais firme, restritiva, com o aumento da taxa de juros, para conseguir conter essa inflação e fechar o ano com a inflação pelo menos abaixo de dois dígitos”, diz o professor de Economia da FGV.