Pelo sétimo mês consecutivo, a inflação foi mais acentuada para as famílias de renda muito baixa, inferior a R$ 1808,79 no domicílio, informou o Instituto de Pesquisa Econômica e Aplicada (Ipea).
O indicador de inflação por faixa de renda, que adapta o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) à cesta de cada estrato de renda, identificou uma taxa de 1,35% em outubro para as famílias mais pobres do país, índice 0,15 ponto percentual (p.p.) acima do registrado para as famílias de faixa de renda mais alta (1,20%) no mês.
Em setembro, a disparidade entre as inflações incidentes sobre pobres e ricos foi ainda maior, de 0,21 p.p., o que vem se acumulando e reflete no agregado do ano ou em 12 meses.
No ano, informa o Ipea, a maior pressão inflacionária ocorre nas faixas de renda média-baixa e muito baixa, com altas de 8,59% e 8,57%, respectivamente.
Nos últimos 12 meses, embora haja aceleração generalizada da inflação, os três segmentos de menor renda são os mais afetados, com taxas superiores a 11,0%. Para as famílias de renda muito baixa, a inflação acumulada em 12 meses chega a 11,4%, mantendo-se bem acima (2,1 p.p.) da apurada na classe de renda mais alta (9,3%). No estrato de renda mais alta, segundo o Ipea, estão os domicílios com renda superior a R$ 17.764,49.
Altas que pesam no bolso
Observados os últimos 12 meses da inflação para as famílias de renda muito baixa, pesam as altas de alimentos como batata (23,6%), açúcar (47,8%) e proteínas animais como carnes (19,8%), aves e ovos (28,9%) e leite e derivados (8,8%).
Os reajustes de 30,3% da energia e de 37,9% do gás de botijão explicam ainda grande parte dessa alta inflacionária. Já para as famílias com maiores rendimentos, a inflação acumulada no período é impactada, sobretudo, pelas variações de 45,2% dos combustíveis, de 50,1% das passagens aéreas, de 36,6% dos transportes por aplicativo e de 11,6% dos aparelhos eletroeletrônicos.
Em outubro, os gastos com habitação foram os que mais contribuíram para a alta inflacionária das famílias dos três segmentos de renda mais baixa.
Para as famílias mais pobres do país, além dos reajustes de 1,2% das tarifas de energia elétrica, de 3,7% do gás de botijão e de 0,9% do aluguel, a pressão do grupo habitação no preço da cesta de consumo também é explicada pelas altas de 1,1% dos reparos no domicílio e de 0,95% dos artigos de limpeza.
O segundo segmento que mais influenciou a inflação das famílias de menor renda, em outubro, foi o de alimentos e bebidas, provocada pelo aumento dos alimentos no domicílio, especialmente da batata (16%), do açúcar (6,4%), do café (4,6%) e das aves e ovos (3,2%), mesmo em contexto de queda nos preços do arroz (-1,4%), do feijão (-1,9%) e dar carnes (-0,04%), itens cujos preços vinham subiram em meses anteriores.
No caso das três faixas de renda mais alta (média, média-alta e alta), assim como ocorreu em setembro, o maior impacto partiu do grupo de transportes. A alta inflacionária desse segmento foi influenciada pelos reajustes de 3,1% da gasolina, de 33,9% das passagens aéreas e de 19,9% dos transportes por aplicativo.
Além das altas dos grupos alimentação e habitação, o grupo despesas pessoais, influenciado pelo aumento dos serviços ligados à recreação, também começa a impactar mais fortemente a inflação para as famílias destas faixas de renda.
Segundo o Ipea, a inflação em outubro ficou acima da registrada no mesmo mês de 2020, para todas as classes de renda pesquisadas. Para as famílias mais pobres, apesar da valorização mais acentuada dos alimentos no ano passado, essa piora da inflação mensal ante 2020 se deve aos aumentos menos intensos, naquele ano, de itens como energia elétrica, gás de botijão, aluguéis e produtos farmacêuticos.
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