Na Pnad Contínua (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua, do IBGE), uma das perguntas mais importantes é quem é o responsável por aquele domicílio. No manual básico da entrevista, fica definido que responsável é o morador ou a moradora assim considerado pelos demais, ou seja, essa pessoa precisa ser a escolhida por outros moradores, sem qualquer norma ou referência.
A pesquisa mostra que, de 2012 a 2022, o número de lares com mulheres como responsáveis cresceu 73%, passando de 22,2 milhões para 38,3 milhões. Pela primeira vez na história, supera o número de domicílios com responsáveis homens. A tendência indica que, em um futuro muito próximo, as casas terão majoritariamente mulheres como responsáveis.
O que pode ter causado uma alta de 73% em 10 anos? Muitas são as hipóteses. A renda gerada pelos moradores pode influenciar a decisão sobre quem é responsável. O Bolsa Família, desde sua criação, priorizou as mulheres como responsáveis pelo recebimento do benefício financeiro e gerou empoderamento feminino. Houve também maior inserção no mercado de trabalho, aumento da remuneração e dos direitos reprodutivos, que certamente impactam esse resultado.
Considerando todos esses fatores (transferência de renda às mulheres, aumento da participação no mercado de trabalho, da remuneração e dos direitos reprodutivos) nenhum indicador cresceu nessa velocidade.
A definição de quem é o chefe da família, uma escolha do próprio domicílio e sem referências preestabelecidas, tem grande associação com mudanças culturais e de normas sociais. É provável que, apesar dos avanços recentes do empoderamento, os domicílios brasileiros tenham se dado conta de que a pessoa de referência sempre foi a mulher, e agora a declaram como tal, independentemente da posição de provedora.