Preço da carne volta a subir e deve continuar alto nos próximos meses

Após um ano em meio em queda, os preços das carnes voltaram a subir em setembro e outubro no Brasil, impulsionadas pela alta no valor da proteína bovina.

 

Nos 12 meses encerrados em outubro, as carnes ficaram 8% mais caras aos brasileiros, com destaque para cortes populares, como o patinho (11,5%), acém (10%) e contrafilé (9%), mostra o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

 

Quatro fatores ajudam a explicar a alta de preços, segundo economistas consultados pelo g1:

 

  1. Ciclo pecuário: após dois anos de muitos abates, a oferta de bois vai começar a diminuir no campo;
  2. Clima: seca e queimadas prejudicaram a formação de pastos, principal alimento do boi;
  3. Exportações: Brasil é o maior exportador de carne bovina do mundo e vem batendo recordes de vendas;
  4. Renda: queda do desemprego e valorização do salário mínimo estimularam compras de carnes.

 

 

Segundo os economistas, esses fatores também indicam que o preço não deverá baixar em 2025, e a alta pode se estender até 2026. Veja:

 

  1. Altas e baixas do ciclo pecuário

A oferta de bovinos começou a ficar mais restrita no campo e um dos motivos que explica isso são os ciclos da pecuária, explica Felippe Serigati, coordenador do mestrado profissional em Agronegócios da Fundação Getúlio Vargas (FGV).

Em resumo, eles funcionam assim:

  • alta do ciclo: quando há uma expectativa de alta nos preços do bezerro, os pecuaristas, em vez de abater as vacas, as mantêm nas fazendas para reprodução, movimento que provoca um aumento nas cotações dos bovinos (boi gordo, bezerro, novilhas, boi magro, vaca gorda, etc.);
  • baixa do ciclo: quando as projeções do preço do bezerro começam a cair, um volume maior de fêmeas é encaminhado para os abates. Isso amplia a quantidade de carne no mercado, gerando uma queda nas cotações dos bovinos.

 

A redução do valor das carnes no último um ano e meio correspondeu, justamente, a um período de grande volume de abates de bois e vacas no Brasil. No terceiro trimestre deste ano, inclusive, os abates ultrapassaram, pela primeira vez, 10 milhões de cabeças, segundo uma série histórica do IBGE iniciada em 1997.

 

“Só que, nesses últimos dias, a gente tem visto que o ciclo pecuário está começando a se inverter. Começou a ter menos disponibilidade de animais”, pontua o economista Allan Maia, da consultoria Safras & Mercado.

 

“Foram abatidas muitas fêmeas nos últimos dois anos. Então, há um número menor de nascimentos”, acrescenta.

 

  1. Secas, queimadas e menos confinamento

A maior seca da história recente do Brasil e as queimadas também ajudam a explicar a alta de preços agora no final do ano.

 

“No final de abril, maio, mas principalmente entre junho e setembro, chove menos, os dias ficam mais curtos, sem muita luminosidade. Então, há menos produção de pasto, que é o principal alimento do gado”.

 

“Nesse ano, a seca foi maior, tivemos as queimadas, e isso potencializou a queda na produção de pastagem”, diz Carvalho, acrescentando que esse cenário diminuiu o volume de boi gordo disponível para abate.

 

Nesses momentos, é comum que o pecuarista confine o seu gado para engordá-los com ração, o que acaba saindo mais caro. Como os preços do boi gordo ficaram em baixa boa parte deste ano, os produtores decidiram não fazer investimento, diz Carvalho.

 

“Isso gerou uma oferta restrita de agosto até agora”, destaca o pesquisador.

 

  1. Exportações em alta

Enquanto a produção caminha para um momento de baixa, a demanda externa por carne está aquecida. E o Brasil, como maior exportador global da proteína, vem batendo recordes de exportação.

 

Exemplo disso é que, em outubro, as vendas nacionais da proteína alcançaram 301.166 toneladas, o maior volume embarcado para o mês, de acordo com a Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (Abiec), que tem uma série histórica das vendas desde 1997.

 

“Por que nós estamos exportando volumes recordes? Porque outros fornecedores de carne bovina não estão conseguindo atender a demanda externa. A Austrália está recompondo o seu rebanho bovino. Os Estados Unidos estão no seu menor rebanho desde 1950. A Argentina está voltando agora para o mercado”, comenta Serigati.

 

O aumento das exportações reduz a quantidade de carne disponível no país, estimulando uma alta do preço da carne para o brasileiro.

 

  1. Renda maior e festas

No Brasil, as compras de carnes também estão aquecidas e isso contribui para manter os preços da proteína em alta.

 

“A taxa de desemprego está lá embaixo, a remuneração média está aumentando e a população ocupada está crescendo”, comenta Serigati.

 

“Houve ainda uma política de valorização do salário mínimo, e reajustes de uma série de benefícios sociais, como a Previdência, BPC [Benefício de Prestação Continuada], Bolsa Família, seguro-desemprego. Isso é mais renda chegando”, acrescenta o professor da FGV.

 

“E o bifão é a preferência nacional. Se [o brasileiro] tiver dinheiro no bolso, ele vai preferir consumir carne bovina”, diz Serigati.

 

O pagamento do 13º salário e de bonificações neste final do ano, somada à chegada das festas de final do ano, deve manter a demanda aquecida, conclui o economista Allan Maia, da Safras & Mercados.