O Ministério de Minas e Energia do governo Lula informou recentemente que não será necessário, por enquanto, retomar o “horário de verão”, que antecede em uma hora o fuso horário brasileiro. Bares e restaurantes, entretanto, lamentaram a decisão do governo, já que o fluxo de clientes e, por consequência, o faturamento, costumam aumentar durante o período.
Descontinuado desde 2019, ainda na gestão Bolsonaro, o horário de verão foi criado em 1985 pelo Ministério de Minas e Energia como forma de economizar energia e reduzir custos operacionais no período mais quente do ano, quando o consumo de energia elétrica aumenta com maior utilização de aparelhos como ar condicionado, chuveiro elétrico, etc.
Na avaliação do Ministério de Minas e Energia do atual governo, como os níveis dos reservatórios nas hidrelétricas devem chegar ao fim deste mês acima de 70% no sudeste, centro-oeste, nordeste e norte, a situação e a oferta de fontes renováveis são suficientes para garantir o fornecimento de energia, sem necessidade de adotar o horário de verão. Os dados são do Operador Nacional do Setor Elétrico (ONS).
Para a Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel), a economia de energia não deveria ser o único fator a ser levado em consideração. Segundo a entidade, a adoção do horário de verão traz impactos positivos sobre a economia por estimular uma maior movimentação e consumo em lojas, bares e restaurantes.
Ainda de acordo com a entidade, há uma estimativa de que, durante o horário de verão, o faturamento de bares e restaurantes chega a aumentar entre 10% a 15%, uma vez que, como mencionado, estimula um maior fluxo de consumidores nas ruas.
“O pessoal técnico tem uma visão muito focada, que não considera os benefícios que a mudança traz para a sociedade como um todo. Por isso temos a certeza de que a questão será mais bem avaliada pelo governo, levando em conta os aspectos positivos, ambientais, sociais e econômicos, que a mudança traz aos estados em que é adotado o horário de verão”, salienta Solmucci.
Perda no faturamento
A IstoÉ Dinheiro conversou com empresários do setor de bares e restaurantes para entender o impacto do horário de verão nos negócios. Dono de cinco restaurantes no Rio de Janeiro, o sócio dos Grupo Trëma e da marca Quädrifoglio Delivery, Joca Ururahy, estima que o horário de verão, por si só, ajude a elevar o faturamento em pelo menos 10%, podendo chegar a 12% em alguns estabelecimentos dos quais administra.
“Para nos, principalmente se tratando no Rio de Janeiro, o horário de verão funciona muito bem. O carioca gosta de aproveitar o clima, ir à praia, sair após o trabalho, então naturalmente nossos restaurantes registram maior fluxo de consumidores com a adoção do horário”, comenta.
A descontinuidade do programa é vista pelo empresário como uma decisão ruim. “Você enxerga uma mudança no comportamento do cliente, ele acaba saindo mais cedo para jantar e aproveitar a cidade, que ainda está sob a claridade do sol”, lembra. Ainda para a Abrasel, a antecipação do horário por conta do verão garante de duas a mais horas de funcionamento aos bares e restaurantes, o que justifica o aumento do rendimento do negócio.
O sócio do grupo A Life Nino, Luigi Balbi, que administra estabelecimentos conhecidos da boêmia paulistana como Tatu Bola, Boa Praça e Nino Cucina, vai na mesma linha.
“Nós não estamos vendo como uma decisão tão positiva. O público fica mais disposto em dias mais longos e com o horário de verão a presença sempre foi muito maior. Conforme a Abrasel se posicionou, além da própria economia, qualquer adiantamento no relógio acaba estimulando consumo e presença dos clientes nos bares”, confirma.
Ainda no ano passado, o presidente Lula chegou a realizar uma enquete em no X (antigo X) sobre a volta do horário de verão. Para a maioria de seus seguidores, 66,2%, o horário de verão deveria ser retomado. Enquanto outros 33,8% afirmaram ser contrários a retomada da mudança no fuso horário.