Três em cada dez pequenos negócios estão com dívidas em atraso no Brasil. Ao mesmo tempo, os empreendedores viram uma queda de 41% no faturamento no mês de janeiro deste ano quando comparado com dezembro de 2022. É o que mostra a mais recente pesquisa Pulso dos Pequenos Negócios, realizada pelo Sebrae em parceria com o IBGE.
Segundo o levantamento, a questão financeira atinge de forma mais grave os microempreendedores individuais (MEI), já que cerca de 63% desses empreendedores têm 30% ou mais dos seus custos mensais comprometidos com pagamentos de dívidas.
Na média, 55% das micro e pequenas empresas (MPE) se encontram nessa situação. O resultado representa crescimento de 4 pontos percentuais em comparação com agosto do ano passado. A pesquisa ouviu quase 7 mil pequenos empresários em todo o país no fim de janeiro.
Entre os respondentes, 39% têm empréstimos em aberto, com pagamento em dia; 27% estão endividados e em atraso; e 34% não têm dívidas em aberto.
Na avaliação de Giovanni Beviláqua, coordenador de acesso a crédito e investimentos do Sebrae, a alta da inflação e a consequente elevação da taxa de juros são fatores que explicam o aumento do endividamento. “A inflação teve impacto direto sobre os custos operacionais das empresas como energia e produtos para revenda, quanto a taxa de juros tornou os empréstimos mais caros, sobretudo nas operações de crédito com taxas pós-fixadas que têm a Selic como referência”, explicou o economista.
Essa combinação de altas, ele completa, pressionou as margens das pequenas empresas. “As consequências disso são uma redução das atividades das empresas, menor investimento e maiores dificuldades para rolar as dívidas e obtenção de novos empréstimos.”
O levantamento também apontou que o percentual de pequenos empresários que apontavam os custos como maior dificuldade caiu de 42% para 36%, mas, ao mesmo tempo, a proporção dos que apontam a falta de clientes como principal problema cresceu 4 pontos, alcançando 28% dos pequenos negócios.
De acordo com a pesquisa, apenas os setores de academias de ginástica e agronegócio tiveram alta no faturamento entre todas as atividades da economia. Já as perdas mais expressivas aconteceram nos segmentos de artesanato (-18%), logística e transporte (-16%), serviços pessoais (-15,5%), beleza (- 14%) e moda (-13%). Na média, as MPE registraram uma perda de 6%, e quem é MEI, 12%.
Apesar de os custos estarem altos e o faturamento em queda, há um receio de perder consumidores e isso gera cautela na hora de repassar custos. Apesar de oito em cada 10 empreendedores terem verificado aumento dos custos, 47% evitaram transferir qualquer valor adicional aos clientes.
Os empreendedores também sinalizaram que o ano deve ser difícil para o segmento: 44% dos entrevistados disseram ter dificuldades para manter o negócio nos últimos meses, contra 41% em agosto de 2022. Ao mesmo tempo, caiu de 11% para 9% a proporção dos que se dizem esperançosos para a economia este ano.