Se você disser que acredita nas pesquisas eleitorais, estará bem acompanhado, pois muita gente pensa assim. Se, entretanto, afirmar que não confia nelas, terá ao seu lado também um número expressivo de pessoas que comungam dessa mesma opinião.
De maneira geral, quando o resultado do levantamento beneficia o candidato da preferência do eleitor, a tendência é a de que ele concorde com os dados. Ao contrário, se os indicadores não favorecerem àquele que defende, poderá interpretar o resultado como equivocado
Os levantamentos são baseados em critérios científicos. Quem não tem muita familiaridade com números e conceitos matemáticos/estatísticos costuma duvidar equivocadamente dos números divulgados. Diz, por exemplo: ah, não acredito porque nunca fui entrevistado. Ou: como pode esse resultado estar certo se foram pesquisadas apenas duas ou três mil pessoas?
São números! E por mais que sejam “torturados”, no final “confessarão” que o resultado é o mesmo. A pesquisa é a fotografia do momento. Se os acontecimentos observados no momento da pesquisa não se alterassem no tempo, a apuração das eleições seria coincidente. Ocorre que essa fotografia se modifica e se transforma em filme logo após as respostas dos pesquisados.
Essa modificações ocorrem por diversas razões, como o pronunciamento empolgante ou infeliz de um candidato, um indicador econômico que satisfaça ou desagrade a população, uma notícia relevante a respeito de questões sociais, que mexa com o humor dos eleitores. Enfim, qualquer fato novo pode ser suficiente para tornar desatualizado o estudo já no momento da sua divulgação.
Como são feitas as pesquisas
Para emitirmos uma opinião convicta, é necessário entender como as pesquisas eleitorais são feitas.
Vamos começar pelo óbvio: suponha que você queira saber como serão os resultados das eleições para presidente da república, um país com um número de quase 150 milhões de eleitores – seria impossível entrevistar um por um. Portanto, o que se faz é pegar uma amostra, ou seja, um pequeno grupo de cerca de 2.000 pessoas dessa população, e perguntar como elas votam. Simples assim? Nem tanto, existe um modo correto de escolher essa amostra. Você diria que uma amostra de 2.000 eleitores é muito pouco. Não é, desde que seja representativa. Para fazer um exame de sangue não é necessário tirar todo o sangue do paciente, apenas uma pequena amostra.
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Assim, a amostra deve ser feita de modo proporcional a cada região, e ser representativa da população. Por exemplo, se a população votante for composta em 54% por mulheres e 46% por homens, então, neste caso, 1.080 mulheres e 920 homens deverão participar da pesquisa. Isso se estende para outras categorias como idade, escolaridade etc.
No caso do Instituto PoderData que faz pesquisas por telefone, são realizadas sempre mais de 2.000 entrevistas com pessoas em municípios das 27 unidades da Federação. Em alguns casos quando é necessário buscar mais precisão em dados estratificados de alguma parcela demográfica da população, o número de entrevistados pode ser maior. Para atingir todas as pessoas que preencham as cotas demográficas necessárias, são feitas dezenas de milhares de ligações telefônicas. Às vezes, são necessárias mais de 100.000 ligações até que a pesquisa possa ser completada.
Resultados
Feito estas observações, verifiquemos o que ocorreu no segundo turno das eleições de 2018, que elegeu o Presidente Jair Bolsonaro, em 28 de outubro:
a) Pesquisas efetuadas pelo Instituto Datafolha:
Candidatos Pesquisa divulgada em
……………………… 10/10/18 18/10/18 28/10/18
Jair Bolsonaro 58% 59% 56%
Fernando Haddad 42% 41% 44%
b) Pesquisas efetuadas pelo Ibope:
Candidatos Pesquisa divulgada em
……………………….. 18/10/18 23/10/18 27/10/18
Jair Bolsonaro 59% 57% 54%
Fernando Haddad 41% 43% 46%
c) Resultado das eleições:
Jair Bolsonaro obteve 55,13% dos votos válidos
Fernando Haddad ficou com 44,87% dos votos válidos.
Como podemos observar, os resultados ocorreram dentro da margem de erro das pesquisas, que era de 2 pontos percentuais para mais ou para menos.