O percentual de famílias que relataram ter dívidas a vencer caiu 0,4 ponto percentual (p.p.) em julho, representando 78,1% das famílias no País.
Com a primeira queda desde novembro de 2022, o volume de endividados chegou ao menor nível desde janeiro deste ano. Do total de pessoas com dívidas, 18,2% consideram-se “muito endividadas”, percentual que também apontou queda, a primeira desde dezembro. Os resultados são da Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor, apurada mensalmente pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC).
O Programa Desenrola, medida do governo federal que iniciou em julho, propôs a renegociação de dívidas bancárias de pessoas com renda entre R$ 2,6 mil e R$ 20 mil. Isso fez com que a proporção de endividados na classe média diminuísse em julho.
O presidente da CNC, José Roberto Tadros, reforça a importância da Peic no cenário nacional. Isso porque a pesquisa foi utilizada pelo próprio governo federal na construção do programa. Segundo Tadros, “com o início da trajetória de queda da taxa de juros, é esperado um movimento de melhora das condições de compra do brasileiro, o que é positivo para a economia como um todo”.
Um alento para a classe média
Nas faixas de renda de 3 a 10 salários mínimos (SM), o volume de consumidores com dívidas caiu 0,7 p.p. em comparação a junho. Conforme a economista da CNC responsável pela Peic, Izis Ferreira, essa redução interrompe a tendência de alta do endividamento desses consumidores, que vinha sendo observada até o fim do semestre passado. No primeiro grupo, das pessoas com renda entre 3 e 5 SM, o volume de endividados caiu ao menor nível desde junho de 2022. Já entre os com rendimentos de 5 a 10 SM, a proporção de endividados é a menor desde janeiro deste ano.
O percentual de inadimplentes também diminuiu entre os consumidores com renda entre 5 e 10 SM, com uma queda de 1,7% no volume dos que estão com contas atrasadas e uma queda de 0,4% nos que afirmam não ter condições de pagar dívidas de meses anteriores.
“A CNC estima que a proporção de consumidores endividados amplie o ritmo de queda nos próximos meses”, explica Izis Ferreira. Conforme ela, a taxa deve ficar próxima a 77% do total de consumidores no País, em setembro, quando o Desenrola acontecerá para o público priorizado na faixa 1 (com renda de até 2 salários mínimos). “No entanto, a previsão é que o índice volte a crescer no fim do ano, encerrando 2023 com cerca de 78% do total de famílias com dívidas”, afirma.
Endividamento aumenta entre os mais pobres
Ainda sem Desenrola para os consumidores de renda baixa (que recebem até 3 salários mínimos), a proporção de endividados começa o segundo semestre em ligeira alta, de 0,1%, estabelecendo-se em 79,4% desse grupo. O volume de inadimplentes subiu 0,3% e atingiu 37,3%, e o daqueles que afirmaram não ter condições de pagar dívidas atrasadas há mais tempo teve aumento de 0,2%, chegando a 16,6%.
Os consumidores com até 2 salários mínimos com CPF negativado por conta de dívidas de até R$ 5 mil são o público priorizado pelo Desenrola, mas a operação do programa para esse grupo começa somente em setembro.
Queda das dívidas no cartão de crédito
A Peic revela que, em julho, caiu para 85,9% a quantidade de endividados no cartão de crédito, ante os 87% de junho. Essa é a primeira queda em seis meses, colocando o indicador no menor nível desde fevereiro. Foi também a mais expressiva entre as modalidades de dívida. Também é possível observar uma leve redução, de 0,1%, do volume de endividados no cheque especial (que ficou em 4,1%) e no crédito consignado (5,1%).
O volume de endividados e endividadas no cartão de crédito caiu em julho, e a queda foi mais expressiva entre as mulheres (-1,2p.p.), embora elas estejam em maior número com dívidas no cartão (86,8%) do que os homens (84,1%).
Endividamento cai em metade dos Estados do País
O movimento de renegociação fez a proporção de endividados cair entre junho e julho em 13 das 27 Unidades da Federação. As maiores reduções foram no Distrito Federal (queda de 2,6 p.p.), em São Paulo (2,0 p.p.), no Tocantins (1,8 p.p.), Amapá (1,6 p.p.) e Bahia (1,2 p.p.).
Em outros 13 estados, o volume de pessoas com dívidas aumentou, com destaque para Sergipe (3,6 p.p.), Piauí (2,7 p.p.) e Ceará (2,7 p.p.). Apenas no Espírito Santo, o número de consumidores com dívidas permaneceu estável na comparação mensal.