Governo exige retratação formal e espera recuo do Carrefour após declaração sobre carne brasileira

As reações de repúdio e retaliação às declarações do presidente mundial do Carrefour, de que a rede não comprará carne do Mercosul para as lojas na França, ganharam apoio do presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), que cobrou retratação do executivo e defendeu aprovação de uma “lei de reciprocidade”, e do ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, que se disse “feliz” com o boicote de frigoríficos à varejista francesa no Brasil. O boicote inclui frangos e suínos. Empresas e associações também endossaram a resposta à varejista.

 

O governo brasileiro cobra do Carrefour uma retratação formal das declarações que o CEO global da companhia, Alexandre Bompard, fez a respeito da carne dos países do Mercosul, incluindo o Brasil. Na semana passada, em um comunicado direcionado a produtores franceses, ele anunciou que a empresa vai parar de comprar a carne da região e questionou o padrão de qualidade do produto.

 

Diante da escalada, emissários da Embaixada da França em Brasília e do Carrefour informaram ao Ministério da Agricultura que o presidente global do grupo, Alexandre Bompard, prepara carta pedindo desculpas ao Brasil e aos frigoríficos após colocar em dúvida a qualidade da carne oriunda do Mercosul e anunciar que não compraria o produto na rede da França.

 

A empresa informou ao governo que quer entregar a carta nas mãos de Fávaro. O embaixador da França no Brasil, Emmanuel Lenain, reuniu-se com autoridades do Ministério da Agricultura e demostrou que a carta estava sendo redigida. O texto deve ressaltar a longa história do grupo no Brasil, que passa de 50 anos.

 

Para o governo, porém, o entendimento é que a crise não será resolvida apenas com a carta. É preciso que ela deixe claro que o produto brasileiro tem qualidade. O embaixador vai tentar entregar a carta nesta semana.

 

A Embaixada do Brasil na França expressou, em nota, a posição do governo Lula de repúdio à declaração de Bompard dizendo que ela “reflete opinião e temores infundados quanto à sustentabilidade e à qualidade dos produtos oferecidos pela pecuária brasileira, que não condizem de forma alguma com a prática comercial do próprio Carrefour, que, todos os dias, oferece esses mesmos produtos a mais de 2 milhões de consumidores brasileiros, nem com eventual risco para os produtores e consumidores europeus decorrente das importações provenientes do Mercosul.”